quinta-feira, setembro 20, 2012

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 20/09


Entrevista - CORRADO PASSERA

Austeridade e crescimento precisam andar juntos
PARA MINISTRO ITALIANO, PAÍSES DA EUROPA CONSEGUIRAM VOLTAR A TRABALHAR UNIDOS PARA COMBATER CRISE ECONÔMICA

O ministro do Desenvolvimento Econômico, da Infraestrutura e dos Transportes da Itália, Corrado Passera, chegou anteontem para uma visita ao Brasil em meio a um atrito do governo italiano com a Fiat. O primeiro-ministro Mário Monti cobra que a montadora, que havia sinalizado desistência de investimentos na Itália, esclareça seus planos. O ministro disse que a questão é local e que não repercutirá no Brasil.

Passera, que veio com empresários ao país para incrementar o comércio bilateral, de cerca de € 9 bilhões, quer mais investimentos de empresas brasileiras na Itália. O ministro, que é considerado o mais importante do governo Monti, diz que as eleições previstas para abril do ano que vem vão ocorrer. Mas não quis confirmar se será candidato a chefiar o governo.

Passera esteve com o vice-presidente Michel Temer, com os ministros Fernando Pimentel (Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Paulo Sérgio Passos (Transportes), Paulo Bernardo (Comunicações) e Márcio Zimmermann (interinamente nas Minas e Energia). A seguir, trechos da entrevista dada em um hotel em São Paulo.

FOLHA - Há demanda da indústria italiana para uma melhora das relações bilaterais de comércio, como redução da burocracia e de impostos?

Corrado Passera - Como já temos uma grande comunidade de empresas aqui, podemos ajudar outras menores a vir. Estamos criando mecanismo de apoio através da agência de comércio internacional. Combinamos com o governo brasileiro de acelerar a criação de um conselho de negócios com representantes da indústria brasileira e da italiana. Não percebemos grande preocupação ou lamentos da indústria italiana aqui.

Nós temos um país com burocracia muito forte. Simplificar os procedimentos e ter escritórios que concentram informações sobre exportações podem ajudar.

Como têm se saído as medidas tomadas para enfrentar a crise, especialmente no seu ministério?

O país reagiu muito fortemente. Foi nomeado um novo governo, dito técnico, com o apoio da grande maioria do Parlamento. Foram tomadas decisões muito duras para garantir ao mercado a solidez das contas públicas.

Fizemos uma forte reforma fiscal e elaboramos uma agenda para o crescimento e para resolver as fraquezas de competitividade.

Como exemplos, lançamos um grande programa de infraestrutura que desbloqueou investimentos de € 35 bilhões. Abrimos para a concorrência setores como o de gás e o de transporte público. Fizemos duas leis para simplificar a burocracia.

São apenas exemplos do conceito fundamental de que austeridade, crescimento e desenvolvimento devem andar juntos. Um sem o outro não bastará. O que o Brasil fez para desenvolver o país, mas ao mesmo tempo gerir com rigor, medidas para combater a pobreza, mas também para crescer, é notável. A credibilidade e o papel de destaque adquirido pelo país eram impensáveis há duas ou três décadas.

O senhor declarou no mês passado que via "a saída da crise, mas tudo dependerá do que conseguirmos fazer". O que ainda falta fazer? O pior já passou?

É preciso sempre ter cuidado ao fazer essa afirmação, mas certamente nosso país recuperou muito em termos de credibilidade. Garantiu, através de uma série de reformas estruturais, o controle das contas públicas, o que facilitará uma nova fase de crescimento.

Há, claro, muito trabalho a fazer e o comportamento da Europa será relevante porque muitos dos problemas que tivemos em 2011 e nos primeiros meses deste ano se devem a forma como a crise do débito público foi administrada.

Por um longo período, não se fez adequadamente o que deveria ter sido feito, e a crise piorou. De junho em diante, vemos coisas muito importantes. Decidiu-se intervir com recursos comuns de países europeus. Depois o Banco Central Europeu garantiu também fundos próprios para intervir. A causa do nosso alto débito público se agrava em termos de spreads de juros quando a Europa não garante a estabilidade do euro, o que está ocorrendo agora.

O governo mantém as projeções para o PIB?

Sim, negativo neste ano, para zerar no ano que vem e começar a crescer.

Quando?

Não se pode falar já.

Quanto?

Quanto conseguirmos. Fazer previsão de longo prazo é sempre arriscado.

Com a saída do presidente Sarkozy e a entrada do sr. Hollande, viu-se uma mudança nas relações entre França e Alemanha. Hollande se aproximou mais do que o antecessor da Itália, da Espanha e de outros europeus. A Alemanha parece mais isolada. Isso beneficiou a Itália?

Não se deve a isso. As relações entre os três países hoje são muito mais fortes. Com a gestão conjunta, nessa fase difícil, a crise foi amenizada. Todos contribuíram, a sra. Merkel, o sr. Hollande e Mário Monti, que foi com certeza um ator importante.

Também teve muito mérito o outro Mário, o Draghi [do BCE], que interveio de maneira robusta e corajosa para evitar a instabilidade do euro, que estava prejudicando toda a Europa. Me parece que os grandes países europeus reencontraram uma capacidade de trabalhar juntos que parecia um pouco perdida.

Que medidas ou decisões com relação à Fiat serão tomadas na reunião marcada pelo premiê Monti, pelo sr. e pela empresa no próximo sábado?

Depois da reunião, diremos. A Fiat é uma grande empresa italiana, global, cujo sucesso no Brasil demonstra sua importância.

No ano passado, apresentou um projeto de desenvolvimento de suas atividades. Em declarações sucessivas, a empresa demonstrou que aquele plano poderia não ser seguido como previsto.

Marcamos esse encontro para saber com clareza os projetos da empresa, que é tão importante para o país.

Não é uma atitude um pouco intervencionista nos negócios da empresa?

Queremos apenas saber, como havíamos recebido os planos da empresa e a companhia fez declarações não mais em linha com aquele plano. Creio que informar todos, incluídos governo e parte social, se há mudanças.

Isso pode repercutir na unidade do Brasil?

Absolutamente. O Brasil tem a sua estratégia e não posso imaginar que haja relação com planos em outra parte do mundo.

Com a aproximação das eleições, como vê o cenário e o apoio ao governo técnico de Monti?

O governo continuará a trabalhar até o fim, tem um programa a completar nos próximos meses. Até agora, o Parlamento deu um apoio muito forte ao trabalho do governo. Esperamos que a conclusão do programa continue com esse apoio, e os italianos decidirão nas eleições quem estará no Parlamento na próxima primavera.

Serão em abril?

O presidente da República, em acordo com o primeiro-ministro, decide quando será. Poderá ser em abril ou nessa época do ano.

Poderá ser adiada, como na Bélgica?

Não creio que essa hipótese seja considerada.

O sr. se candidatará?

É uma decisão que não tomei. Quando tomar, avisarei. Agora devo fazer o papel de ministro técnico do governo.

"O que o Brasil fez para se desenvolver é notável. A credibilidade e o papel de destaque adquiridos pelo país eram impensáveis há duas ou três décadas"

Raio-x: Corrado Passera

Cargo
Ministro do Desenvolvimento Econômico, da Infraestrutura e dos Transportes da Itália

Origem
Como, Itália

Formação
Economia pela Universidade Bocconi, em Milão, e mestrado em administração na Universidade da Pensilvânia

Carreira
- CEO do Jornal L'Espresso

- Assume os Correios Italianos em 1998

- Fica à frente do Banco Intesa Sanpaolo até 2011

CONSUMO DIGITAL
O vazamento de dados pessoais na internet ainda é considerado o principal entrave para o crescimento das compras on-line, segundo estudo da F/Nazca Saatchi&Saatchi realizada com 2.428 entrevistas em 146 municípios.

Cerca de 58% dos internautas afirmam que não compram pela internet por sentirem medo de que seus dados sejam hackeados.

Entre os consumidores das classes D e E, não ter cartão de crédito é outra das principais barreiras para as compras on-line.

Na classe C, 48% consideram inseguro e 25% desconfiam que o produto possa não ser entregue.

No grupo dos que compram, as marcas de lojas de rua são as preferidas, segundo o estudo. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

46% é a parcela dos internautas das classes D e E que não compram on-line porque acham inseguro

30% são os que não compram por não ter cartão de crédito ou débito

18% são as pessoas das classes D e E que costumam acessar a internet

25% da classe C desconfia que o produto possa não ser entregue

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