sábado, setembro 15, 2012

Custos da eleição - LEONARDO CAVALCANTI


CORREIO BRAZILIENSE - 15/09

Depois de mais de 100 horas da expulsão de Ana de Hollanda da Esplanada dos Ministérios, há pouco para comentar sobre os detalhes da saída ou mesmo repisar o quanto o governo Dilma Rousseff entrega ou redesenha-se para garantir a vitória de Fernando Haddad em São Paulo. Dar de bandeja o cargo da irmã de Chico Buarque é passado. O que importa para o PT é saber se o custo valerá a pena.

Desde que Haddad foi confirmado como candidato a prefeito, Dilma mexeu nos cargos na tentativa de abrir o leque de apoio ao petista. Como mostrou este Correio na terça-feira, o maior movimento, depois do convite feito a Marta, foi chamar Marcelo Crivella, do PRB, para assumir o Ministério da Pesca no lugar do bigodudo Luiz Sérgio (PT-RJ). Uma troca sem muitas dores.

Antes, entretanto, a presidente já tinha colocado Aloizio Mercadante no Ministério da Educação, justamente no lugar de Fernando Haddad. Dilma, na época, tentava neutralizar a chance de o também bigodudo embicar numa prévia à prefeitura. Por último, entregou ao malufista Osvaldo Garcia a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades. E aqui um detalhe.

Além dos quatro movimentos, petistas — talvez só os mais incautos — ainda tiveram de aturar o abraço de Haddad e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Paulo Maluf. Assim, chegamos a cinco grandes ações a favor do ex-ministro da Educação. Nos casos do afago em Maluf e da indicação de Crivella, as ações ainda parecem não ter efeito na campanha propriamente.

Pesquisas
Até onde se consegue interpretar das pesquisas de intenção de votos divulgadas até agora, o candidato Celso Russomanno (PRB) tem apoios em parte da base eleitoral de Paulo Maluf. Assim, o abraço de Haddad — e de Lula — no ex-prefeito até agora pode ter rendido pouco à candidatura do petista. O mesmo ocorreu com a indicação do senador Marcelo Crivella para a Esplanada dos Ministérios.

Com a confirmação de Crivella, o bispo licenciado, o governo Dilma conseguiu garantir votos de evangélicos no Congresso, que, vez por outra, ameaçavam debandadas. Mas o prato principal acabou de fora: a candidatura de Russomanno. No último mês de março, existia a preocupação do candidato do PRB atrapalhar de alguma forma a ida de Haddad para o segundo turno. A história hoje é diferente.

A aposta em Marta é a mais recente — e não se sabe se a última — para ajudar Haddad a crescer. A volta da petista à Esplanada tem, em tese, dois objetivos. Reforçar o empenho da senadora na campanha petista. Marta teria força em áreas periféricas de São Paulo, uma das dificuldades de Haddad. A saída dela também representa mais uma vaga para o PR, partido do suplente Antônio Carlos Rodrigues.

O problema é que, no primeiro dia em que Marta foi convidada para o ministério, flagrante feito pelo fotógrafo Iano Andrade, deste Correio, deixou os petistas numa saia justa. A foto mostrava mensagem do celular da senadora enviada por um grupo militante chamando o suplente de “evangélico e homofóbico” e pedindo a substituição dele da relatoria de um projeto que criminaliza a homofobia.

Na quinta-feira, dia da publicação da reportagem, petistas tentaram evitar que o episódio atrapalhasse a convivência já tumultuada entre Haddad e os evangélicos. Caso nenhuma das apostas citadas acima dê certo, a maior de todas elas será frustrada: a escolha de Haddad por Lula.

Outra coisa
Russomanno agora é favorito para chegar ao segundo turno. Há 45 dias, ele vem ganhando musculatura e avançando. Pelo atual cenário, como se sabe, a briga pela outra vaga está entre Haddad e Serra, o candidato tucano. Por ora, porém, esqueçamos os chutes. Ninguém garante até mesmo que nas próximas três semanas o próprio Russomanno não possa cair e chegar em 7 de outubro em terceiro. O primeiro analista ou leitor que hoje tenha certeza do resultado mande e-mails para esta coluna.

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