domingo, setembro 02, 2012

Cadê a torcida? - PAULO VINÍCIUS COELHO


O Estado de S.Paulo - 02/09


Quarta-feira passada, o Fluminense entrou em campo disputando a liderança contra o Corinthians e diante de apenas 7.500 torcedores. Um escândalo! Mais assustador, apenas o fato de dirigentes de todos os tipos e clubes terem na ponta da língua a sua desculpa própria, tão pronta quanto esfarrapada, para explicar o fiasco de público do Brasileirão 2012.

Hoje é dia de jogo entre o campeão de público do primeiro turno, o Corinthians, contra o dono da melhor média de ocupação de seu estádio, o Atlético-MG. O Corinthians tem o maior número de torcedores do campeonato, 24.800 por jogo, mas o Pacaembu tem em média 38% de espaço vazio. É muita cadeira sem torcida.

O Atlético é o campeão do primeiro turno e resolve melhor a ocupação de seu estádio. Tem 80% do Independência ocupado, enquanto o Flamengo enche apenas 23% do Engenhão, o São Paulo 22% do Morumbi. O Flamengo, maior torcida do País, tem público ridículo de 9.100 por partida.

O Galo resolve melhor a ocupação do Independência, mas isso pode acontecer apenas neste momento.

Isso porque o Corinthians é o único clube brasileiro que, aparentemente, entende qual será a única maneira de encher seu estádio em todos os jogos nos próximos anos: sócio-torcedor. Dependendo do pacote comprado, o sócio-torcedor corintiano ganha descontos quanto mais ingressos compra. Sabe também que só terá prioridade para comprar bilhetes nos jogos decisivos se estiver presente em um número maior de partidas comuns. É o que o fideliza em outros países do mundo.

O Atlético não faz isso. Seu plano de sócio-torcedor tem preço único de R$ 200. É caro! Se o time vai bem, o torcedor comparece, se está mal, a torcida some.

Eis o fator do qual os clubes brasileiros precisam se livrar. Na Itália, os carnês levaram mais de 30 mil torcedores a todos os jogos até começar o declínio da Série A e o pay-per-view ficar mais barato do que o ingresso de arquibancada. Na Inglaterra, o carnê é caro, mas as tribunas estão cheias sempre. Na Espanha, idem. Real Madrid x Barcelona jogaram pelo primeiro turno da liga passada, em dezembro, com 3 graus de temperatura, chuva, sábado às 22h. Tudo o que serviria de desculpa aqui. Havia 87 mil pessoas no Santiago Bernabéu. Sim, era Messi x Cristiano Ronaldo.

Na quarta-feira, não era preciso haver 87 mil, mas Fluminense x Corinthians mereciam 30 mil. Pelo menos.

Não é verdade que no passado só houvesse estádio lotado por aqui. No Brasileirão 1973, seis rodadas antes de ser campeão, o Palmeiras enfrentou o Corinthians com 16 mil pessoas. Pelo Paulista 1973, no Palmeiras x São Bento tinham 260 torcedores no Palestra Itália. A melhor media de público de qualquer torneio na história do Brasil é de 22 mil pagantes, no Brasileiro de 1983. Muito pouco comparado com os 46 mil presentes a cada partida na Alemanha.

Aqui prevalecia e continua valendo a lógica de jogo grande tem torcida, jogo pequeno não tem. Com estádios modernos, a partir do ano que vem, isso precisa mudar. Mas o conformismo segue. Percebe-se isso a cada vez que alguém diz que o público é bom, com 20 mil pessoas e 20 mil lugares vazios no estádio.

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