domingo, setembro 16, 2012

BC, sem medo de ser feliz VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 16/09

BC ajuda a vitaminar a economia liberando dinheiro de bancos, na esteira de seus compadres 

A GENTE achava que o Banco Central do Brasil estava para ficar mais comedido depois da campanha maciça de redução de juros, que fez um aninho em agosto.

Mas, na sexta-feira, o pessoal afrouxou mais as rédeas. Liberou parte do dinheiro que os bancos têm de deixar parado na caixinha do BC, o depósito compulsório. Mais dinheiro nos bancos resulta, em tese, em crédito mais barato e fácil.

Foi por precisão ou boniteza? Necessidade de estimular mais a economia e/ou de fazer o dinheiro fluir mais pelos bancos pequenos, que andam meio estressados?

Ou, por boniteza, o BC quis aproveitar a oportunidade (economia ainda lerda) para reduzir a distorção que é o tamanho do compulsório no Brasil?

Seja qual for o alvo, liberar dinheiro do compulsório representa um estímulo adicional ao crédito quando o próprio BC vinha dizendo que era o momento de esperar para ver o resultado da campanha de baixa de juros.

A redução da Selic, a taxa básica de juros, não tem efeito imediato, não de todo. Pode demorar mais de ano e pouco para ter impacto total na atividade econômica, se mais nada de novo aparecer para atrapalhar ("tudo mais constante").

Para usar uma metáfora (nada) original, o efeito do juro baixo é como água quente no chuveiro -esquenta aos poucos. Se a gente abre demais a torneira da água quente, logo pode se queimar (superestimular a economia e queimar a pele com inflação mais alta).

O BC vinha dando pistas de que poderia dar mais um talho miúdo na taxa de juros: 0,25 ponto percentual. Depois de relaxar o compulsório, parece improvável que o faça.

De qualquer modo, o BC nem esperou para ver o andar da carruagem econômica antes de dar mais cenouras para os cavalos. Isso quando a taxa de juros real (descontada a inflação) anda pela casa de 1,7% ao ano, baixíssima para o Brasil, e a inflação flutua na casa de desagradáveis 5,5%.

Injeção de dinheiro na economia, facilitação de crédito e outros estímulos foram a tônica da economia mundial nos últimos dez dias, por aí. Isso é indício claro de que situação anda devagar quase parando.

O BC Europeu prometeu, na prática, emprestar dinheiro para países quase quebrados que se submetam à dieta de reformas liberais & economia de gasto público.

O BC americano vai, na prática, injetar dinheiro no mercado de financiamento imobiliário. Até os chineses, que estão querendo desacelerar, mas não muito, anunciaram estímulos econômicos.

Por um lado, como se disse, tais reações dos governos e BCs indicam que a economia dos principais países do mundo demora a se recuperar do tombo de 2012.

Por outro, essa nova rodada de estímulos pode ter algum efeito positivo (requentar as economias) e, nem tanto, pode elevar preços de commodities (matérias-primas), como petróleo, dando talvez um peteleco na inflação (para cima).

No Brasil, não é apenas o BC que tenta vitaminar a economia. O governo federal gasta mais e corta impostos: mais cenouras para os cavalos da economia e sebo nas canelas depois de um biênio de crescimento pouco maior que 2% ao ano.

BC e governo, juntos, sem medo de ser feliz, é uma dupla dinâmica inédita nos últimos quase 20 anos.

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