segunda-feira, agosto 13, 2012

Votos, pacotes & segredos - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 13/08

Nesta próxima fase do julgamento não existe meio-termo sob o ponto de vista político. Se o STF decidir pela condenação, ainda que dispense os réus da cadeia, o estrago estará feito
Quem acompanha o cronograma do julgamento do mensalão e da agenda da presidente Dilma Rousseff nota algumas coincidências. No mesmo dia em que o os ministros do Supremo Tribunal Federal devem começar a apresentar seus votos, Dilma lança no Planalto o pacote de incentivo à indústria. E para piorar — ou facilitar — as coisas para o PT, tudo indica que o horário eleitoral de rádio e tevê começará na mesma semana em que o país saberá se os réus da Ação Penal 470, ou parte deles, serão condenados. 
Ou seja, nesta primeira fase, de condenação e/ou inocência, não existe meio-termo sob o ponto de vista político, especialmente, para um partido que disputa eleições municipais. Se os ministros decidirem pela condenação, ainda que dispensem os réus de passar um período na cadeia, o estrago eleitoral estará feito. Daí, a preocupação do partido. 
Por essas e outras, quem compara as agendas de Dilma e do STF tem certeza de que não há coincidências entre pacotes e votos dos ministros. Tudo a partir de agora será pensado para evitar que o governo se contamine por essa fase do julgamento e, assim, ajude a segurar as pontas para o PT nas campanhas pelo país afora. 

Por falar em segurar as pontas...Os petistas sabem que, julgamentos à parte, é a economia o grande indutor das campanhas do partido, seja agora, seja em 2014. Portanto, se Dilma conseguir ultrapassar essa fase de crise e seus pacotes colocarem o país para andar, não será o mensalão que vai tirar dela a primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto. O fundamental, avalia o PT, é não deixar criar um clima de descontrole do país, como ocorre com as greves. Se elas não cessarem logo, novos problemas virão. E as paralisações estão em fase terminal, apesar da entrevista do ministro da Fazenda, Guido Mantega, soar como um balde de água fria na cabeça dos grevistas. 
Na entrevista aos Diários Associados, Mantega deixa explícito que não virá o sonhado aumento para todos os setores. E quem não acredita no ministro, é bom ficar de olho no Orçamento da União de 2013, a ser enviado ao Congresso em 31 de agosto. Quem trabalha nessa lei garante que não estará embutido ali uma folga de caixa para cobrir o que os sindicatos classificam como defasagem salarial. A prioridade do governo é o setor privado como indutor de investimentos, e é por aí que o governo pretende mostrar algum fôlego e dar a sensação de que atitude que o eleitor tanto gosta. 

Por falar em sensação...A aposta do governo é a de que só o setor privado pode hoje dar ao eleitor brasileiro a percepção de atitude que a campanha de Dilma mostrou na tevê em 2010. Alguém se lembra do mapa do Brasil e das setas que levavam o telespectador a encontrar Lula ou a sua candidata com o chapéu de mestre de obra em algum ponto do país? A sensação ali, lembram os governistas, era de controle, trabalho e obras em andamento. Hoje, o preço da gasolina está à beira de aumento, as greves tomam conta do setor público e a indústria ainda não mostrou a que veio. Ou o governo retoma aquele clima de ação ou o eleitor corre o risco de ir buscá-lo em outra freguesia. 

Por falar em freguesia...Quem está de olho nas campanhas não perde a oportunidade de se perguntar qual o segredo de Celso Russomano, candidato do PRB a prefeito de São Paulo. Desde que ele se lançou na disputa, em junho, os políticos tradicionais dizem que ele está com os dias contados no segundo lugar nas pesquisas de intenções de voto. Entretanto, lá se vão quase dois meses sem que ele se mova dessa posição. Ok, sabemos que Russomano terá só 2 minutos e 11 segundos em cada bloco na tevê, enquanto José Serra, Fernando Haddad e Gabriel Chalita terão mais tempo. Portanto, a tendência é desidratar.
Mas, o recado do momento é claro: o eleitor paulistano busca uma alternativa ao PT e ao PSDB. Por enquanto, o voto em Russomano é considerado um protesto. Afinal, ele é, entre os candidatos, o mais conhecido, pilotou um programa na tevê e lá vai. Está patente que o eleitor quer quem cuide dos problemas do dia a dia e não de teses e de brigas internas partidárias. Se os candidatos dos grandes partidos não aproveitarem o horário eleitoral para passar ao eleitor a segurança de que estão ali para resolver problemas, os grandes partidos podem se surpreender. Fernando Henrique Cardoso, aliás, já tratou disso em reuniões com os tucanos. Da nossa parte, cabe acompanhar essa campanha da mesma forma que se observa os votos dos ministros no STF e os lançamentos de Dilma. 

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