quinta-feira, agosto 16, 2012

Vista de Copacabana - PAULA CESARINO COSTA


FOLHA DE SP´- 16/08

RIO DE JANEIRO - Para muitos, parecia inconcebível. Como um homem com tantas e tão importantes obras de arte podia morar em um apartamento de aparência simples, na rua Barata Ribeiro, uma das mais movimentadas e barulhentas de Copacabana? Por que não em um com a sonhada vista para o mar?

O romeno Jean Boghici, 84, é um homem de outro tempo. Começou a comprar obras de arte nos anos 60, quando Copacabana vivia seu auge.

Era o retrato do Brasil moderno, frequentado e habitado por uma elite urbana, de artistas, intelectuais, estrangeiros. Em meio a edifícios art déco, surgiam exemplares da arquitetura modernista. A vida noturna, das boates à bossa nova, fervia. Ainda hoje é a síntese da singularidade do Rio. Em suas ruas, vê-se a história.

De área ocupada por pastagens no século 18, com acesso apenas por trilhas tortuosas que atravessavam os morros, o bairro sofisticou-se, lançou modas e atraiu a classe media.

Mudanças tortuosas das leis, típica das nossas cidades, permitiram que, ao lado dos palacetes, com suas portarias suntuosas, crescessem prédios com centenas de apartamentos minúsculos de um quarto. Tornou-se uma das maiores concentrações urbanas do país e a derrocada começou nos 1970. Hoje, percebe-se que é um bairro em transformação e que cativa memórias e guarda segredos.

No apartamento de Boghici, pelo que se vê pelas fotos da revista "Vogue", a sensação era a de estar em um pequeno museu. Ao subir à cobertura do edifício Príncipe de Nassau, o marchand deve se esquecer de onde vive, da algaravia das ruas.

Quem visita o belo museu de Arte Contemporânea de Niterói, projetado por Oscar Niemeyer, testemunha como é difícil concentrar os olhos nas obras de arte tendo o mar como concorrente. Boghici não precisava ter a vista do mar para sonhar. Tinha muitos outros horizontes. Bastava olhar para as paredes de sua casa.

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