domingo, agosto 19, 2012

Tonia - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O GLOBO - 19/08

Quem entrasse na sala da nossa casa naquele momento não acreditaria no que via. Ali estava a Tonia Carrero, atriz de cinema, teatro e televisão ,uma das mulheres mais admiradas do Brasil pelo talento e a beleza, de quatro sobre o tapete demonstrando um exercício para a coluna que recomendava a todos. Nada representava melhor o que era a Tonia do que aquela cena: sua informalidade, seu cuidado com o próprio corpo e sua preocupação com os amigos – mesmo que nenhum amigo sequer tentasse imitar sua ginástica. 

A Tonia nunca deixava de nos visitar quando passava por Porto Alegre. Às vezes se hospedava conosco, e sua chegada era sempre uma festa. No mesmo dia em que ficara de quatro para nos animar a fazer exercícios ela passara um bom tempo dando uma aula de maquiagem à cozinheira. Talvez nenhuma outra grande atriz brasileira tenha se destacado como Tonia tanto pela beleza quanto pelo currículo artístico. A beleza de Tonia era fulgurante e a sua longa carreira teatral incluiu comédias antológicas e clássicos e dramas importantes que ela abrilhantou com sua versatilidade e aquela voz inesquecível. Decididamente, não é apenas um rosto bonito.

Tonia Carrero, a Mariinha como a chamam os amigos, está fazendo 90 anos hoje. Olha aí, Mariinha: o meu abraço inclui os de todo o mundo aqui em casa. Inclusive dos que já se foram.

ENFADO

“Enfadonho” é uma grande palavra. Nada descreve melhor uma coisa assim, assim... Enfim, enfadonha – do que a palavra “enfadonha”. Se você disser que alguém é enfadonho está descrevendo-o com exatidão. Enfadonho não é exatamente chato, tedioso, cansativo. Enfadonho é enfadonho, a palavra está dizendo.

Por exemplo: o enorme voto do relator no julgamento do mensalão foi enfadonho – e ominoso, outra boa palavra. Pelo seu tamanho, o voto do relator já estava pronto e as defesas não fizeram a menor diferença no seu conteúdo. O voto dos outros ministros não será tão grande mas presumivelmente já estavam prontos antes das defesas.

Os advogados de defesa não só disseram o óbvio – ninguém sabia de nada, o dinheiro era para caixas 

2, etc – como falaram em vão. A não ser que dê alguma briga de soco entre os ministros – “Data vênia: paft!” – será tudo muito enfadonho até o final. 

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