terça-feira, agosto 21, 2012

Serra e cerveja - LUIZ GARCIA


O GLOBO - 21/08

Há algo de novo em Petrópolis: uma cervejaria velha.

Ninguém se assuste. Estou apenas brincando com as palavras. É um direito de quem há muito tempo sofre com elas - e também se diverte. O que pode ser culpa exclusiva de quem se lança à aventura de dar o seu recado a leitores ainda pacientes.

O jogo com as palavras tem explicação simples: a cidade, que nasceu de colonização alemã, foi por isso mesmo sede da Bohemia, talvez a mais antiga cervejaria brasileira. Há pouco tempo, novos donos tiveram a bela ideia de transformar suas instalações, simultaneamente, numa fábrica moderna e num museu da cerveja. Com direito a guias bem bonitinhas e instruídas para mostrar como se fazia cerveja antigamente e como ela é produzida atualmente. Ou seja, a satisfazer dois tipos de sede - a de conhecimento e a outra, da nossa goela.

Petrópolis merece. Não lhe faltavam antes, é bom lembrar, motivos para ser visitada. Fica perto do Rio - uma hora e meia de carro - e a viagem serra acima é uma beleza, mesmo com a quantidade de caminhões no caminho. Durante muitos anos, foi o refúgio de famílias razoavelmente abastadas durante o verão. Mulheres e crianças fugiam do calor carioca por dois meses ou mais, e os maridos, coitados, ficavam no Rio trabalhando. E também, em casos certamente muito raros, gozando alguns prazeres proibidos na capital.

Esse tempo acabou, por razões que os cientistas sociais ainda não decifraram. Petrópolis e seus arredores ainda têm sua população de veranistas, mas as famílias sobem e descem em bloco. A fidelidade conjugal fica preservada - ou encontrou outras formas de ser driblada.

Petrópolis nada perdeu. Continua a ser um refúgio. E a cidade também cresceu: não parece sentir falta dos veranistas, uma expressão que ninguém mais usa. Não perdeu seus encantos. A quantidade de hotéis de médio porte é prova disso. Andar a pé no centro continua a ser um exercício tão bom para as pernas quanto para os olhos. A tudo isso soma-se agora o museu da cerveja - que inclui um simpático bar ao ar livre. Nem tudo é perfeito, obviamente. A ocupação das encostas, tanto por pequenas favelas como por casas mais sofisticadas, ainda não parece ser controlada como necessário - como provam as chuvas pesadas que são comuns na região. Mas, em matéria de cervejaria, Petrópolis vai muito bem.

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