domingo, agosto 05, 2012

Por que tenho medo de Romney - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 05/08


Candidato republicano tende a ser uma usina de problemas no Irã e, pior, na América Latina



Eu tenho medo de Mitt Romney, o candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos. Não estou sozinho. Katrina vanden Heuvel, a publisher da revista "The Nation", escreveu dias atrás o seguinte:

"Como um homem das cavernas congelado numa geleira, Mitt Romney é um homem aprisionado no passado -de sua posição arcaica sobre direitos das mulheres à sua crença numa economia à la Herbert Hoover" (Hoover, presidente durante a Grande Crise de 1929, tornou-se o adversário número um do "New Deal", a política de estímulos adotada por seu sucessor e que acabou por tirar a América do buraco).

Já seria suficiente para temê-lo, mas Heuvel ainda salga a ferida ao completar: "Agora, parece que sua política externa também está presa no passado".

Não sei, não, Katrina, mas meu medo é menos o passado e mais o futuro, em relação, por exemplo, ao Irã: na visita que Romney fez a Israel, um de seus assessores, Dan Senor, afirmou, com todas as letras que, "se Israel tiver que agir por sua conta, de forma a evitar que o Irã desenvolva isso [capacidade nuclear], o governador [Romney] respeitaria tal decisão".

Desnecessário enfatizar o tremendo risco para o mundo todo no caso de Israel resolver atacar o Irã, por mais que entenda o temor de muitos em muitas partes com a possibilidade de uma ditadura -ainda por cima teocrática- possuir a bomba. Mas, aí, não cabem outras saídas que não sejam negociar, negociar e negociar de novo.

Um presidente norte-americano que estimule o apetite israelense é, portanto, para se temer.

Lembro que, antes mesmo das primeiras primárias republicanas, já havia escrito, neste espaço, que Romney seria, se eleito, "uma verdadeira usina de problemas para a diplomacia brasileira, a julgar por suas posições a respeito de América Latina" (texto de 3 de janeiro).

Baseava-me em relato de James Bosworth, blogueiro do Latin America Monitor, incrustado no "Christian Science Monitor", sobre alguns dos pontos que Romney já colocara no papel.

O republicano equipara Cuba e Venezuela como partes de um movimento "virulentamente antiamericano na América Latina, que busca minar as instituições de governança democrática e as oportunidades econômicas".

Que há uma aliança Cuba/Venezuela, não é segredo. Mas que seja realmente desestabilizadora é outra conversa. Tratar Hugo Chávez, se reeleito, como os EUA tratam Cuba é aproximar o fósforo de um tanque de gasolina.

Com a Venezuela no Mercosul, o Brasil é parte do tanque.

Segundo ponto: Romney pretende, nos primeiros cem dias no cargo, lançar uma "Campanha para Oportunidade Econômica na América Latina", que leva todo o jeito de ser uma retomada da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), posta em hibernação, aparentemente definitiva, justamente pelos desentendimentos entre Estados Unidos e Brasil.

Atritos comerciais são naturais em toda parceria, mas agregar a eles uma tintura ideológica é tudo o que Brasil e Estados Unidos deveriam dispensar.

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