sexta-feira, agosto 17, 2012

Olímpiada de gastos - ROBERTO FREIRE

BRASIL ECONÔMICO - 17/08


A Olimpíada de Londres acabou em festa, principalmente para a Inglaterra, que terminou em terceiro lugar no quadro de medalhas. Quanto a nossa participação, não há nada para comemorar. Houve aumento significativo nos repasses da Lei Piva para preparação dos atletas, passando de R$ 230 milhões no ciclo Pequim — 2008, para R$ 331 milhões neste ciclo.

O Brasil gastou quase R$ 2 bilhões de investimento no esporte neste ciclo olímpico, somando-se aos repasses da Lei Piva, o Bolsa-Atleta, os patrocínios estatais e os recursos vindos diretos do governo.

No entanto, ganhamos apenas um bronze e uma prata a mais e o número de atletas brasileiros em finais caiu de 41 para 35. Apenas em termos comparativos, conforme dados do Comitê Olímpico Brasileiro, a Austrália gastou cerca de R$ 1,7 bilhão e ficou em 10º no quadro de medalhas, a Grã-Bretanha gastou R$ 2 bilhões e ficou em 3º, e a Alemanha gastou R$ 3,8 bilhões e ficou em 6º.

Nossa decepcionante 22ª posição no quadro de medalhas é fruto de uma estratégia equivocada em sua origem. Em produtividade da equipe, estaríamos em posição ainda pior.

Segundo reportagem da Folha de São Paulo, em um ranking com a divisão do número de atletas inscritos (enviamos 258 brasileiros aos Jogos) pelo número de pódios, o Brasil ficaria em 51º lugar entre os 85 países que ganharam medalhas em Londres. Se levássemos em consideração o tamanho da população e o PIB, seria o fracasso completo.

O atual governo erra ao optar em torrar o dinheiro do contribuinte em esporte de alto rendimento ao invés de investir em estruturas e equipamentos esportivos de qualidade nas escolas e nas cidades, bem como universalizar a educação física e práticas esportivas para crianças e jovens, como forma de integração, lazer e identidade de nossa juventude.

É impossível formar atletas de alto rendimento sem ter a base que só a formação escolar pode oferecer. É necessário milhares de praticantes dos esportes para se garimpar e formar campeões olímpicos e se tornar uma potência esportiva.

A falta de bons resultados no esporte reflete a precariedade da educação no país, a falta de um planejamento estratégico do governo, tendo como horizonte, o longo prazo, e não uma premência midiática em cima "das grandes promessas olímpicas". Sem resolver o problema de base, o gasto em esporte tem se revelado desperdício de dinheiro público.

Precisamos cobrar resultados das políticas públicas, não só dos esportes, mas na educação, saúde, segurança, infraestrutura, etc. No entanto, vivemos em um país em que isso não é comum.

Cobramos resultados dos atletas e algumas vezes de maneira até insultuosa, todavia não cobramos resultados nem transparência dos dirigentes e gestores públicos. É essa cultura que precisa mudar.

Estamos torrando bilhões de reais para sediarmos a próxima Copa do Mundo e a próxima Olimpíada, e o "foco" é sempre o proselitismo ufanista. Precisamos ter claro quais benefícios, quais resultados, devemos esperar desses eventos. Estruturas esportivas que serão deixadas sem uso como elefantes-brancos na paisagem farão somente o Brasil campeão e recordista do desperdício de dinheiro público, mais uma vez. E, o pior, associado não raras vezes à corrupção.

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