segunda-feira, agosto 20, 2012

Etanol a reboque - JOSÉ ANÍBAL

Brasil Econômico - 20/08/


A política de preços do governo acabou por criar um jogo de soma zero entre a gasolina e o etanol, sobrepondo os dois mercados

O anúncio de que o governo federal pretende aumentar a mistura de etanol na gasolina dos atuais 20% para 25%, a partir de 2013, deveria servir de alento para um setor tão escanteado pela atual política energética. Na falta de uma estratégia de longo prazo, de políticas setoriais específicas, metas de expansão e de produtividade, além de adequações regulatórias, resta a velha prática de assegurar demanda como forma de oferecer um mínimo de previsibilidade e segurança a quem produz.

O problema, obviamente, não é a medida em si, mas o que ela reitera: a política sistemática de colocar o etanol a reboque das conveniências do mercado de combustíveis fósseis e, mais especificamente, dos resultados da Petrobras. Praticada desde 2003, a política do governo de manter o preço da gasolina artificialmente rebaixado, além de imune às variações do mercado internacional, apresenta agora sua fatura.

Por um lado, a competitividade do etanol caiu, o que diminuiu a procura, retraiu a oferta, derrubou a produtividade e congelou investimentos em renovação de canaviais e novas usinas, fazendo disparar a importação do combustível. Por outro, o aquecimento do mercado de combustíveis automotivos e a subutilização do etanol, somados à queda na produtividade da Petrobras e ao esgotamento da capacidade de refino, fizeram a importação de gasolina crescer 370% em relação ao mesmo período de 2011. O prejuízo da estatal na área de abastecimento chega a R$ 7 bilhões.

Como resultado, a participação dos combustíveis fósseis e nossa dependência aos mercados internacionais cresceram, há uma forte pressão inflacionária represada, a Petrobras está no vermelho e o setor de etanol deprimido, com investimentos declinantes e canaviais envelhecidos, sem condições de responder imediatamente às urgências tanto do mercado interno quanto da demanda externa - que volta a dar sinais de aquecimento.

Em suma, a política de preços do governo acabou por criar um inusitado jogo de soma zero entre gasolina e etanol. Agora que a gasolina virou "problema", recorre-se ao marginalizado etanol como uma espécie de remendo: aumentando a mistura do etanol na gasolina, alivia-se a pressão sobre a Petrobras e sobre a balança de pagamentos. Cabe somente ao governo responder por que os dois mercados precisam se sobrepor.

No mais, não se fala em definições sobre o papel do etanol na matriz energética, em planejamento de longo prazo, regras claras ou políticas públicas que deem segurança aos investidores.

Manobras táticas imediatistas voltadas ao socorro em situações desfavoráveis vão contribuir muito pouco para desatar os nós do abastecimento e para enfrentar de vez a instabilidade crônica a que o setor vem sendo submetido.

Vale lembrar: a indústria sucroenergética responde por 2% do PIB nacional, é o carro-chefe do nosso desenvolvimento de bioenergias e dela deriva toda uma complexa e sensível cadeia de pesquisa tecnológica e inovação competitiva. Noutras palavras, ela não pode se fiar em conjunturas momentâneas e incentivos circunstanciais.

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