quarta-feira, agosto 08, 2012

Bigodes amarrados - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 08/08

O governo vai bem nas pesquisas de opinião, o prestígio de Dilma Rousseff, idem, mas o PT está mesmo decidido a não arriscar deslizes em seu projeto de poder. Por isso, em pleno julgamento do mensalão, caciques do partido se reúnem hoje com a cúpula do PMDB para selar o apoio ao líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), candidato a presidir a Câmara no biênio 2013-2014. O gesto tem vários significados no sentido de amarrar ainda mais os dois partidos a curto, médio e longo prazos

O objetivo mais urgente do PT em fechar essa aliança agora é reforçar o trabalho da cúpula do partido do vice-presidente da República, Michel Temer, em prol dos candidatos do PT às eleições deste ano. Especialmente em Belo Horizonte, onde os peemedebistas compõem a chapa, mas o partido ficou dividido e revoltado por conta de nomeações pendentes na Petrobras e nas agências reguladoras. Também há uma preocupação com São Paulo, onde Fernando Haddad ainda patina na pesquisas e os petistas estão dispostos a evitar qualquer ataque por parte de Gabriel Chalita (PMDB).

Além das questões eleitorais deste ano, o PT deseja ainda segurar desde já o aliado para o futuro. Os tucanos fizeram vários gestos de apoio a Henrique Alves nos últimos meses. Em todas as conversas, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato a presidente da República, tem defendido o nome de Henrique para presidir a Câmara. Aécio de bobo não tem nada. Se alguns petistas fizerem qualquer gesto contra o PMDB, ele estará pronto para fisgar um aliado detentor de um tempo de tevê nada desprezível.

Com a reunião de hoje, o PT espera afastar o fantasma do isolamento no futuro. Ou de levar a culpa por qualquer aventura que surja mais à frente, na disputa pela presidência da Câmara. Os petistas querem deixar claro que, se houver outro candidato, será obra do PSB de Eduardo Campos, o governador de Pernambuco. Campos tem trabalhado no sentido de reforçar a sua presença pelo país. Ele caminha para ser candidato a presidente da República ou conquistar a vaga de vice numa chapa com a presidente Dilma Rousseff. Hoje é visto nos bastidores como um dos maiores interessados em quebrar a aliança entre PT e PMDB e deixar o PMDB escanteado no governo.

Por falar em governo…

Dilma Rousseff disse a Michel Temer que, se for candidata à reeleição, quer repetir a dobradinha com Temer. Dilma e o PT sabem que o único grande partido sem um projeto próprio de poder rumo a 2014 é o PMDB. Por isso, prefere segurar logo o aliado antes que algum aventureiro se aproxime a ponto de levar os peemedebistas para outro porto. E, na hipótese de esse julgamento do mensalão “pegar” do ponto de vista eleitoral, ou a economia sofrer grandes solavancos, qualquer partido fará falta na hora de os petistas lançarem a campanha presidencial.

O problema nessa história toda é que o PMDB é considerado um gato manhoso. Gosta mais da casa (no caso, do governo) do que das pessoas. Sempre pede colo, ganha alguma atenção, mas, quando não tem tudo o que deseja ou se fica muito irritado, arranha o dono.

O PMDB não se conforma com o pouco espaço que considera ter no governo federal. Por isso, espera que Dilma venha com uma reforma ministerial tão logo termine a eleição municipal, em outubro. Não é à toa que caciques do PMDB citam quase que diariamente que não basta Dilma dizer que o PMDB é parceiro, o partido quer governar em conjunto em áreas de destaque. E não pode ser, portanto, impedido de indicar um diretor da Petrobras, das subsidiárias da empresa ou mesmo das agências reguladoras.

Por falar em cargos…

Resta saber se o PMDB vai considerar a presidência da Câmara um projeto partidário ou tratar do tema como um desejo pessoal do líder, onde os liderados não saem ganhando. Dentro do partido, essa definição ainda não está clara. Também é necessário, na visão dos peemedebistas, que o PT feche logo o que pretende fazer na sucessão de José Sarney (PMDB-AP) no comando dos senadores. Afinal, se o partido de Lula pode anunciar hoje o apoio a Henrique Alves, por que não podem fazer o mesmo em relação a Renan Calheiros, pré-candidato a presidente do Senado? Alguns dizem que a razão é o fato de Dilma Rousseff preferir o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Mas, dentro do PMDB, há uma conclusão cristalina: Lobão seria um ótimo presidente do Senado, mas só o fato de ser o candidato de Dilma enfraquece o nome dele para o cargo. Mas essa é outra história. Novos capítulos virão.

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