quarta-feira, julho 11, 2012

Separando o joio do trigo - ANTONIO CORRÊA DE LACERDA


O Estado de S.Paulo - 11/07


Tornou-se mais frequente, nos últimos meses, algumas análises apontando um certo desinteresse com relação aos investimentos estrangeiros na economia brasileira. É, de certa forma, uma reversão da predominância ocorrida nos últimos anos, nos quais o Brasil se tornou um dos alvos preferenciais dos investidores.

Aqui se torna necessário destacar duas observações importantes. A primeira é que grande parte do deslumbramento que houve a respeito do potencial da economia brasileira refletia um (re)conhecimento tardio das características e peculiaridades do mercado doméstico. O fato é que o Brasil sempre foi retratado de forma estereotipada pela mídia internacional e muitos analistas internacionais também demoraram a levar em consideração o seu potencial econômico. A segunda observação é de que é preciso separar o que se convenciona chamar de investimento de uma forma equivocadamente genérica.

Há vários tipos de investimentos, começando pelos investimentos diretos, que representam as inversões associadas a projetos, novos empreendimentos, aquisição de empresas já em operação, enfim, aqueles investimentos diretamente associados às atividades da chamada economia real. Uma segunda modalidade é a dos investimentos em portfólio ou mercado de capitais e compras de ações de empresas. Trata-se, no caso, de investimentos mais voláteis que os do primeiro grupo, mas que podem representar importante instrumento de capitalização das empresas. A terceira modalidade é das aplicações voltadas para o mercado financeiro. Elas não têm uma relação direta com as atividades produtivas, são bastante sensíveis às taxas de juros e, portanto, têm elevado grau de volatilidade.

O Brasil foi por anos a fio o país que propiciou as maiores taxas de juros reais do mundo. Mas, recentemente, tem intensificado a redução dessas taxas, também aproveitando que a maioria dos países desenvolvidos vem praticando taxas muito baixas depois da crise de 2008, nos EUA, e seus efeitos. Um outro aspecto importante foi a alteração na política cambial. A cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a reversão do longo processo de valorização do real colocou um fator adicional de incerteza. Isso tudo associado à queda dos juros diminuiu a atratividade dos papéis brasileiros.

Portanto, há que diferenciar o que se considera de fato a potencialidade da economia brasileira no que se refere aos investimentos. Para os investidores que estão focados no longo prazo o que interessa mesmo é o potencial de crescimento do mercado brasileiro. Aqui o que conta são fatores que implicam uma relação de longo prazo. Esse é o perfil de investimento que mais interessa ao Brasil.

Quanto ao capital especulativo de curto prazo, é natural, e mesmo saudável, que perca o interesse em aplicações no Brasil. Primeiro, porque temos de perseguir o objetivo de consubstanciar o quadro de juros mais baixos e adequados à nova realidade brasileira e internacional. Segundo, porque esse tipo de capital nos proporciona muito pouca vantagem, para não dizer nenhuma.

O ideal é intensificar a absorção de capitais externos que possam complementar nossas competências e gerar novas oportunidades de geração de valor agregado, empregos, exportações e tecnologia. Os capitais de longo prazo também representam uma alternativa de financiamento mais perene para o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos.

Declarações de investidores estrangeiros e seus representantes anotando a perda de atratividade da economia brasileira devem, por conseguinte, ser interpretadas com o devido cuidado. É preciso separar o joio do trigo e persistir nas mudanças que representam mais oportunidades para o Brasil. Isso, mesmo que desagrade a quem via no mercado brasileiro apenas um oásis de lucros fáceis e imediatos.

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