quinta-feira, julho 05, 2012
Sem bala na agulha - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 05/07
Para uma plateia visivelmente desacorçoada de empresários, reunida no auditório da Fiesp, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, transmitiu poucas mensagens animadoras.
Insistiu em que a crise global é muito grave e que vem produzindo mais estragos do que se pensa. Com isso, pareceu tirar a responsabilidade do governo pela forte queda do crescimento industrial, de 3,4% nos primeiros cinco meses deste ano (em relação a igual período de 2011).
O ministro vem dizendo - e ontem repetiu - que o governo federal tem feito o que pode. E, entre as providências tomadas, nem chegou a elencar os nove pacotes pontuais e improvisados de incentivos fiscais e as medidas protecionistas cujos resultados vêm decepcionando. Preferiu apontar como decisões importantes de política econômica a desvalorização cambial colocada em marcha desde março e a redução dos juros. Para ele, essas decisões fazem parte do novo mix que determina os rumos da política econômica, que precisa apenas ser melhor entendida. Mas Mantega não foi capaz de convencer os cobradores de resultados de que a resposta da economia tem sido baixa. Chegou mesmo a argumentar que a desvalorização do real reduz os custos das empresas, sem explicar como chegou a essa conclusão - quando se sabe que esse fator aumenta as despesas tanto com importações de insumos, peças e componentes quanto com empréstimos externos.
Ele seguiu garantindo que o avanço econômico do segundo semestre ficará entre 3,0% e 4,0% e que, em 2013 e 2014, a economia brasileira estará rodando à velocidade de cruzeiro, com crescimento de 4,0% a 5,0% ao ano. Não são números diferentes das apostas que o próprio Mantega vem anunciando desde o último trimestre do ano passado e que, no entanto, desembocaram neste desempenho medíocre da economia.
O governo não tem na ponta da agulha nenhuma bala capaz de reverter imediatamente o jogo perdedor. Pede paciência. No entanto, se a crise global, sobretudo a europeia, vem gerando tantos estragos no setor produtivo como ele diz; e se, de resto, a crise continuará grave e sem perspectivas de solução; não há como concluir, a partir daí, que o pior está passando e que, nos próximos meses, tudo será diferente.
O ministro ainda avisou que o empresário ajudaria muito se voltasse a acreditar e se, afinal, liberasse com investimentos o espírito animal que carrega dentro de si. Mas não foi capaz de indicar como se processará a conversão.
Também ontem, a presidente Dilma Rousseff não apresentou notícias melhores. Limitou-se a declarar que "vamos virar esse jogo" - sem dizer como.
Este governo há muito imaginava que bastaria criar um forte mercado interno de massas e uma nova ajeitação macroeconômica para que tudo se resolvesse. Como a realidade vem contrariando essa expectativa, parece agora tomado pela perplexidade. Não é capaz de explicar como a produção industrial vai andando para trás enquanto o consumo avança à proporção de 5,0% a 6,0% ao ano. Nem sabe como induzir a virada quando cresce a percepção de que a alavancagem do consumo, graças ao aumento do salário e do crédito, já não dá conta do recado. Nessas condições, não basta recorrer ao encorajamento verbal do tipo "vamos, minha gente, acreditem".
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