domingo, julho 08, 2012
Crescer corrigindo erros - SUELY CALDAS
O Estado de S.Paulo - 08/07
Nos últimos dias duas instituições de pesquisa do governo engrossaram o coro dos que têm alertado sobre a ineficácia do tsunami de medidas oficiais para retomar o crescimento econômico. Pacotes e mais pacotes desembrulhados no Fisco e no BNDES têm recebido em resposta o inverso do pretendido: a previsão inicial de 4,5% para a expansão do PIB em 2012 foi caindo, caindo, e hoje está em 2%. Ainda assim, no governo não são poucos os que rezam para Nossa Senhora dos Aflitos ajudar a alcançar a graça de chegar aí.
Na última edição do Boletim Conjuntura em Foco, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) reconhece que as medidas para reaquecer a economia são pontuais, apenas apagam incêndios e não estimulam o investimento. "Estamos perdendo o foco. A política econômica está se transformando num emaranhado de medidas desconexas, pontuais e as estratégias de longo prazo passaram a ficar de lado", criticou o coordenador do Grupo de Análise e Previsões do Ipea, Roberto Messenberg.
Até por recuar os dados a 2010, quando o PIB cresceu 7,5%, a Pesquisa Industrial Anual, do IBGE, é ainda mais clara em mostrar que Lula escolheu o caminho errado ao estimular o consumo e abandonar o investimento. De acordo com a pesquisa, os incentivos do governo recuperaram o emprego e a produção industrial no momento seguinte, mas não impulsionaram novos negócios. Como tinham efeito momentâneo, o fôlego dos incentivos murchou e a economia desacelerou.
Dilma Rousseff e Guido Mantega levaram um ano e meio repetindo o erro, não conseguiram sequer o efeito rápido de Lula e só agora descobriram o óbvio: com a medíocre taxa de investimento de 20% do PIB, a economia do País não decola, com ou sem crise. E partiram para o que sabem fazer melhor: atirar a esmo, sem acertar nenhum alvo.
Lula perdeu o rumo e Dilma nem procurou o seu. Ele começou, mas se perdeu no caminho e desistiu das reformas estruturais dirigidas a reduzir o custo Brasil. Ela, nem isso. Assumiu o governo sem plano, sem programa econômico, sem rumo definido para o País. E sua equipe econômica não ajuda: é fraca, repetitiva, não cria alternativas, detecta os problemas, mas se perde numa enxurrada de soluções desarvoradas, ignora que quantidade não é qualidade.
É verdade que Dilma tem se esforçado em reordenar setores prioritários do governo em que Lula tratou de fazer lambanças políticas. Aí vale destacar a despolitização do setor de petróleo, com nomeações técnicas para as diretorias da Petrobrás e da Agência Nacional do Petróleo (ANP). E é nesse setor que o Brasil tem chances mais promissoras de alavancar novos negócios. Mas para isso Dilma precisa enxergar que investimento e ideologia não combinam e que interesses do País não devem receber tratamento ideológico. Foi o que norteou a definição do plano de investimentos na área do pré-sal e que precisa ser revisto, sob pena de atrasar indefinidamente a exploração de petróleo no País. Motivado por um ingênuo, falso e ultrapassado nacionalismo, o governo criou para a Petrobrás uma reserva de mercado de 30% de todos os poços de exploração. Com isso, sobrecarregou a estatal com a exigência de um volume de dinheiro para realizar os investimentos que ela não tem nem terá em futuro próximo. Prova disso foi a recente revisão do seu plano de negócios, que adiou e até cancelou projetos de investimento.
Dilma já aceita a ideia de dividir a construção de refinarias com sócios estrangeiros, mas esbarra no desinteresse geral - ninguém quer investir num negócio, se o preço de venda é congelado pelo governo. O interesse estrangeiro se volta para a exploração no pré-sal. E o interesse nacional, como fica? Com regras de regulação que garantam a remuneração justa do capital do investidor privado e preservem a destinação do lucro para a população é possível, sim, acelerar os investimentos do pré-sal e estimular o crescimento econômico. A próxima rodada de licitações de exploração já poderia contemplar esse novo modelo. Reconhecer e corrigir erros são qualidades em homens públicos.
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