sábado, junho 16, 2012

A vanguarda do atraso - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 16/06


SÃO PAULO - A charge de Alves publicada à pág. A16 da edição de ontem da Folha, em que Fernando Haddad, pelo PT, e José Serra, pelo PSDB, disputam o PP de Paulo Maluf, retrata com perfeição o nó que vem dando o tom da política brasileira nas últimas décadas.

PT e PSDB, os dois partidos que, por suas origens e ideias primevas, teriam tido condições de modernizar um pouco o modo de fazer política no país, acabaram optando pelo caminho pragmático de aliar-se às velhas lideranças que, desde o Império, ditam os rumos da nação. Primeiro foram os tucanos que, nos anos 90, se juntaram ao então PFL para eleger Fernando Henrique Cardoso. No início deste século foi a vez de o PT compor com um enxame de legendas para dar governabilidade a Lula.

O resultado prático foi que grupos políticos encabeçados por figuras como Maluf, ACM, Sarney, Renan, Jader não apenas não foram relegados para as margens do sistema, como seria desejável, mas ainda ganharam um peso político desproporcional, passando a ser cortejados por petistas e tucanos. A maioria deles sabe tirar proveito dessa situação, como o prova a grande confederação para a chantagem política em que se converteu o PMDB.

A tragédia aí é que o Brasil -que, na passagem dos anos 90 para os 2000, foi capaz de parir um consenso econômico realista e razoavelmente moderno- perdeu a oportunidade de fazer algo semelhante em relação à estrutura partidária.

É claro que pragmatismo e capacidade de negociar são características positivas em agremiações. O problema é que tanto PT como PSDB embarcaram em acordos que se dão muito mais em bases personalistas do que institucionais. Pior, a moeda de troca utilizada são milhares de pequenos e grandes cargos na administração, cujo preenchimento por apadrinhados em vez de técnicos qualificados, quando não favorece a corrupção, resulta em incompetência.

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