sábado, junho 16, 2012

Um buraco no chão - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 16/06


RIO DE JANEIRO - Bonito se, em plena Rio+20 -a conferência da ONU que se propõe a conciliar o verde e a economia-, os delegados estrangeiros souberem que a cidade que os hospeda planeja esmagar uma delicada e histórica praça de Ipanema, solapando-a com uma estação de metrô que poderia ser construída em outro lugar -e que só será instalada ali para atender a interesses de empreiteiras, firmas comerciais e governos.

Os mesmos delegados, já há dias na cidade, devem estar chocados com a peculiar arquitetura das nossas estações de metrô. Enquanto, em outras cidades, o metrô é só um buraco no chão -no qual se entra por uma calçada que, de repente, se torna uma escada comum ou rolante-, no Brasil é diferente. Como nossos metrôs têm 70 anos de atraso em relação aos de Paris, Moscou, Nova York, e são ridículos em extensão e alcance, resolvemos superá-los em gigantismo e feiura ao nível do mar.

O campeão nesses quesitos é o croissant de concreto que estuprou a praça General Osório, também em Ipanema. Agora a ameaça se estende à praça Nossa Senhora da Paz, a apenas três quarteirões de distância. Ali brincaram, em crianças, e namoraram, em adultos, muitos que fariam a fama internacional do bairro.

Mas esqueça a história. Como ficam as crianças e os adultos de hoje e de amanhã? Uma cidade precisa de praças, não como corredor para milhares de pessoas saindo de vagões às cotoveladas, mas como um pouso de descanso, meditação e lazer. Um dia, as prefeituras terão de demolir quarteirões para construir praças. Por que não proteger as que já existem?

Ipanema quer o metrô, e tem alternativas razoáveis para o local da estação. Mas quer também salvar as 130 árvores centenárias que oxigenam a praça e conservar um estilo de vida que, muito antes da Rio+20, já sabia conciliar eficiência e beleza.

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