sexta-feira, junho 29, 2012

Sarney, Lula e Maluf, ode ao amor - GUILHERME ABDALLA

BRASIL ECONÔMICO - 29/06

Recebi há pouco e-mail bastante criativo. Segundo os internautas, a jornalista Cristiana Lobo, da Globo News, teria mencionado que Lula teria o sonho de ser lembrado como um grande estadista brasileiro, algo parecido a Getúlio Vargas.

Em seguida, indagam os internautas: "A ideia parece excelente, mas o que nós queremos saber é: quando será o suicídio?"

A história dos estadistas brasileiros é realmente fascinante. Voltemos ao tempo da ressaca pela derrota das "Diretas-já", em 1984, quando imediatamente se iniciaram as articulações para a escolha do sucessor de João Figueiredo que seria feita pelo então Colégio Eleitoral.

Numa ponta, o PDS tinha dois candidatos: o vice-presidente Aureliano Chaves e o coronel Mário Andreazza (favorito dos militares), ambos atropelados por Paulo Salim Maluf, que à época já era deputado federal, com 673 mil votos.

Nascido em 1931, filho de libaneses e mui amigo do presidente Costa e Silva, Maluf entrou na política pela porta dos fundos em 1969, quando foi nomeado prefeito de São Paulo. Dez anos depois, também por eleição indireta, tornou-se governador.

Sua candidatura à Presidência talvez tenha mudado a história do país, seja pela muito possível eleição de Mario Andreazza, seja pela dissidência por ele causada e que resultou no rompimento de Aureliano Chaves, Marco Maciel e José Sarney (que iniciou sua carreira pública sob apadrinhamento do coronel Vitorino Freire, "dono" da política maranhense, passando oportunamente a ser protegido de Castelo Branco e, portanto, contra as diretas) e criação do PFL.

Não fosse por Maluf, o PFL não teria se unido ao PMDB para formação da "Aliança Democrática" e indicado Sarney ao cargo de vice-presidente de Tancredo Neves, que já havia sido ministro da Justiça de Vargas, estadista preferido de Lula.

Sem Maluf, Tancredo não teria recebido vitoriosos 480 votos no Colégio Eleitoral e Sarney não teria assumido a presidência em abril de 1985.

Noutra ponta, não fosse a legalização dos partidos de esquerda por Sarney, em maio de 1985, e a retomada das liberdades civis por meio da nova Constituição de 1988, o PT nunca sairia da clandestinidade para se tornar então um partido fraco e menosprezado. Lula, seu líder, o inspirador de greves, aprendeu a negociar alianças com base na pressão coercitiva, na exploração de desempregados e analfabetos.

Sem a consequente ameaça de Lula, Fernando Collor não teria o apoio da elite nacional nos ataques contra o governo de Sarney e deixado Maluf para trás (5ª posição) no primeiro turno das eleições de 1989. Lula não teria adquirido magnitude não fossem as peripécias de Collor.

Lula não estaria agora tomando vinho com Maluf para saciar sua fome psicopata e desdenhar da fraca memória dos assalariados.

Na política do tudo é possível para permanência do poder, a primeira vítima é a verdade. Alianças inimagináveis são celebradas desde que abençoadas pelos aprendizes de Goebbels. Sarney do coronelismo, Lula do mensalão e Maluf da Interpol: parece piada sem graça, mas é uma linda história de amor.

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