domingo, junho 24, 2012

Passarinho quer voar - MÔNICA BERGAMO



FOLHA DE SP - 24/06

Jogo para celular baixado 1 bilhão de vezes, "Angry Birds" abre parque, estreia no Facebook e planeja filme; especialistas dizem que fenômeno pode ser passageiro

Mais vale um pássaro bravo na mão do que... US$ 6 bilhões. É o que o mercado estima valer a Rovio, empresa finlandesa que em 2009 tinha 12 funcionários e hoje emprega cerca de 200 pessoas.

O alçar de vôo veio com "Angry Birds", jogo para celular e aplicativo pago mais bem-sucedido da história. Nele, pássaros redondos estão de pena em pé porque porcos verdes roubaram seus ovos. Para resgatar a cria, as aves raivosas se lançam, de estilingue, contra os suínos.

Com essa lógica simples, o aplicativo foi baixado mais de um bilhão de vezes, cada uma delas por US$ 0,99. "E é o começo de algo maior", diz o vice-presidente de franquias da firma, Ville Heijari, no seu escritório em Espoo, cidade na zona metropolitana de Helsinque, Finlândia.

Roupas como as que ele usa e outros produtos licenciados representaram 30% dos U$S 67,6 milhões (R$ 135 milhões) que a empresa lucrou no ano passado. Só na última semana de maio, foram lançados na Europa o refrigerante dos pássaros, a bala dos pássaros e a gaiola para pássaros dos pássaros.

A primeira semana de junho marcou o nascimento do filhote mais vistoso do ninho: o primeiro parque de diversões da grife no mundo, em Tampere, também na Finlândia. Nele, há um estilingue gigante, como o dos personagens, e um carrossel.

"Eu adoro o jogo, mas achei que os brinquedos são infantis", diz o designer Toivo Laukka, 28, à coluna. "Não faço ideia de quem sejam esses bichos", afirma a aposentada Aata Toroteija, 72. "Mas minha neta me obrigou a trazê-la. E gostou."

"Queremos ser a próxima geração em franquia de entretenimento", diz Peter Vesterbacka, chefe de marketing da empresa (ou Águia Chefe, como seu cargo aparece no cartão de visitas).

Para isso, outros parques virão. O segundo, na Inglaterra, já começou a ser projetado. Na semana passada, foram anunciados planos para abrir espaços semelhantes na China, em 2014, junto com cem lojas de suvenir. Ainda não há previsão de pouso dos pássaros na América Latina.

Mas por aqui eles podem ser alcançados no plano virtual. "'Angry Birds' poderá ser jogado dentro do Facebook a partir de julho", diz Heijari, sem revelar se o jogo será pago e quanto a Rovio desembolsou para estar na maior rede social do mundo.

Outra investida da companhia é lançar joguinhos parecidos com o primeiro. Em duas semanas deve chegar ao mercado "Amazing Alex", em que o usuário monta engenhocas feitas com objetos como balões, molas, luvas de boxe e sapatos.

O novo jogo não é invenção da empresa. Tinha sido criado por dois jovens americanos e chegado à Apple Store, que comercializa os aplicativos de iPhone, mas não vendeu bem.
"Compramos os direitos do aplicativo, o aprimoramos e agora vamos usar o nome da empresa para dar a ela a atenção que merece", diz Heijari. "Não será um 'Angry Birds', é claro, mas não é o que esperamos."

Enquanto tentam emplacar outro jogo, eles seguem ordenhando o primeiro: há quatro meses, a Rovio comprou o estúdio de animação Kombo por US$ 42 milhões (cerca de R$ 85 milhões) para produzir desenhos animados da passarada.

Em um mês, haverá desenhos animados de até dois minutos e meio, para ver no celular. "É difícil manter a atenção das pessoas por mais de cinco segundos", diz Heijari. Perguntado se nos filmes os passarinhos viram personagens mais complexos, com nome e habilidade de falar, ele responde "isso não importa". Mas sacode a cabeça para cima e para baixo, como quem diz sim.

Outro plano é chegar ao cinema. Para isso, vão abrir em dois meses um escritório em Santa Mônica, a 20 km de Hollywood. "Isso vai levar muitos anos ainda", diz o vice-presidente. Há quem diga que a empresa não tem tanto tempo de vida como imagina - ou propaga.

"É uma moda passageira. Em anos, ainda falaremos de Mickey, mas não de 'Angry Birds'", diz o analista de entretenimento digital James McQuivey. "Eles ganharam muito dinheiro muito rápido. A queda é provável e será estrondosa."

No momento em que outra companhia finlandesa, a Nokia, está em declínio e demite 10 mil funcionários de uma vez, "o país espera bastante" da empresa, diz seu executivo.

"As pessoas se perguntam se o desenvolvimento de jogos pode ser a próxima grande indústria do país", diz Vesa Vihriälä, diretor do Instituto de Pesquisas Econômicas da Finlândia. Ele mesmo responde: "Não pode. É um mercado restrito".

Restrito e fechado. Depois de anunciar, em 2011, que as finanças da companhia estavam "adequadas para uma abertura de capital em meses", a Rovio voltou atrás. Não realizou oferta pública oficial de ações (IPO, em inglês). "Isso são planos para o futuro", diz o vice-presidente. Assunto encerrado.

"A empresa é ainda um ovo. E é mais provável que ele vire omelete do que fique chocando e se transforme num pássaro que cresça e depois saia voando", diz Sun Mengzi, consultora de tecnologia da informação. "Mas eles podem também surpreender o mundo todo, de novo, e estender por décadas os cinco minutos de atenção que receberam", ressalva ela. "É um mercado sem história, portanto sem manual."

"Não sou a pessoa certa para falar disso", diz à coluna o presidente da Finlândia, Sauli Niinistö. "Não jogo. Mas quem sabe um dia?"
"Angry Birds" em números:
- Há mais de 400 produtos licenciados, de refrigerante a cartão de débito
- US$ 136 mil foram gastos para fazer o jogo, lançado em dezembro de 2009
- US$ 68 milhões foi o lucro da empresa em 2011
- 200 milhões de minutos são jogados por dia, somando todos os usuários
- Mais de 1 bilhão de cópias do jogo foram baixadas. Entre os fãs declarados estão David
- Cameron, primeiro-ministro do Reino Unido, e o cantor pop Justin Bieber

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