sexta-feira, junho 01, 2012

O mordomo da vez - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 01/06


Os partidos aliados ao governo ensaiam deixar a defesa de Agnelo na CPI apenas a cargo do PT. A ordem é tentar desgastar a imagem petista no ano eleitoral

Sempre que o governo federal e o PT enfrentam qualquer problema no Congresso invariavelmente seus líderes apontam o indicador na direção do PMDB. Se perdem no Código Florestal, foi culpa de Henrique Eduardo Alves, o líder peemedebista na Câmara. Se algo dá errado no Senado, o líder Renan Calheiros pode se preparar, porque vai sobrar para ele na hora de buscar as razões de uma derrota. Esta semana, não foi diferente, quando os petistas viram o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, convocado para depor na CPI do Cachoeira. Jilmar Tatto não se deu ao trabalho de verificar a lista de votação. Culpou logo a turma peemedebista. Agora, junho chega com a confusão armada e servindo de pano de fundo para derrubar acordos de cavalheiros nas eleições municipais.

Na avaliação do PMDB, essa não foi a primeira nem será a última vez em que o partido foi responsabilizado pelas mazelas dos governos petistas. Mas, pelo menos na convocação de Agnelo, o desconforto petista não foi obra dos peemedebistas, e sim de outros partidos aliados — nos quais há um grupo interessado em mandar um recado ao Planalto. PR e PP não veem a hora de ter mais espaço no governo. Muitos apostam — e quase sem risco de perder — que, se Agnelo fosse de outro partido, não seria convocado, uma vez que ainda não há elementos capazes de justificar o seu comparecimento à CPI.

Por falar em insatisfações…
O problema é que, ao culpar o PMDB, dessa vez sem razão direta, Jilmar Tatto botou fora o seu sobrenome e despejou lenha na fogueira. Nos bastidores do PMDB, há quem ensaie uma revolta do tipo “aliviar com Perillo” e “pegar pesado com Agnelo”. Não por acaso, o vice-governador do DF, Tadeu Filippelli, passou boa parte da tarde de ontem ao telefone. Ligou para o presidente em exercício do PMDB, Valdir Raupp (RO), e para o vice-presidente da República, Michel Temer, que está na Turquia em missão oficial. Tudo para lembrar que os dois partidos têm que ser solidários um com o outro, sem desconfianças, porque o governo é compartilhado repetindo a aliança nacional.

Por falar em desconfianças…
O difícil, leitor, é esse clima de solidariedade pretendido por Filippelli colar num ambiente tão tenso quanto o da CPI. Especialmente neste mês de consolidação das alianças e convenções partidárias rumo às eleições de outubro. Ao ensaiar a defesa de Agnelo apenas a cargo do PT, os aliados e a oposição vão tentar desgastar um pouco a imagem do partido de Lula no ano eleitoral. Afinal, o eleitor que apenas acompanha o noticiário da tevê, sem prestar muita atenção nas explicações, não entende muito bem o que o governador faz ali. Mas, na sua cabeça, funciona mais ou menos assim: “Ih, olha lá o fulano, na CPI! E eu achei que o cara era honesto”. E sempre tem alguém para completar: “E ele é do PT”. E lá está o partido esfolado, uma vez que, nesse imaginário, raramente o cidadão fixa a informação crucial: saber se o sujeito exposto a interrogatório cumpre o papel de testemunha, de acusado ou é apenas um técnico dando explicações. No geral, o que fica é “chegou à CPI é porque alguma coisa deve”.

Vale lembrar que 13 de junho, quando Agnelo irá à CPI, é Dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro. É quando os congressistas prometem ensaiar um casamento explosivo da CPI com a temporada de eleições, com um partido tentando desgastar o outro em busca de dividendos eleitorais. O que vai restar disso, não tem reza nem santo que dê jeito. Só mesmo muito tato político — algo que, cá entre nós, leitor, falta a muitos integrantes da comissão que investiga Cachoeira.

Por falar em chegar…
Não se surpreendam se surgir uma nova mulher nos pedidos de convocação da CPI. Silenciosamente, alguns senadores buscam informações sobre Fernanda Coelho, cunhada do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). Ela é bastante conhecida em Goiás, onde trabalhou por muitos anos. Recentemente, mudou-se para Santa Catarina. Guardem esse nome.

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