sexta-feira, junho 01, 2012
O maracatu de Lula - PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA
Correio Braziliense - 01/06
"Quem segura o porta-estandarte tem a arte, tem a arte"... Hoje, eu me valho de um trecho de Maracatu atômico, clássico da música popular brasileira que Nelson Jacobina nos legou em parceria com o "maldito" Jorge Mautner, para lamentar os descaminhos da política brasileira. Não esquecerei que muita gente já alertava: "O PT é oportunista, não é de esquerda".Mas foi com um discurso vaselinado, à esquerda da carcomida direita brasileira, que Lula e sua "Carta aos brasileiros" abriram caminho para o poder.
Lula já reconheceu isso, mas não custa lembrar: tivesse ele vencido a eleição contra Collor, talvez seu governo tivesse sido um desastre, diante da herança inflacionária herdada de Sarney. O destino se encarregou de conduzi-lo ao Planalto na hora certa, depois de Itamar e FHC terem colocado a inflação sob controle e imposto regras para evitar a gastança pública sem limites, com a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Mas, reconheça-se, foi com Lula que a distribuição de renda se fez de forma mais direta, ampla e eficaz no Brasil. E, sei que é percepção de leigo, foi quando o dinheiro chegou às mãos dessa parcela da população, à qual a divisão do bolo nunca chegava, que a economia deu um salto país afora. Sim, porque bufunfa na mão dos pobres vai direto para o comércio, que se expande, cria empregos e faz girar a roda da fortuna. Até que pipocou o mensalão. E a teatralidade de Roberto Jefferson, ao vivo, numa CPI, escandalizou o país.
À época, se forçasse a mão, a oposição poderia ter levado Lula ao impeachment.
Mas temeu as consequências de uma iniciativa dessa magnitude para o país, ainda marcado pelas maracutaias que levaram à queda de Collor. Em agosto de 2005, Lula foi à tevê, disse se sentir traído por práticas inaceitáveis, das quais não teria qualquer conhecimento, e afirmou que o PT tinha de pedir desculpas ao país. Até aí, mesmo com todo mundo desconfiado da mentira, ainda dava para empunhar o porta- estandarte. Afinal, que político nunca foi vítima de uma traição? Mas o que veio a seguir é surreal: não só o PT nunca pediu desculpas, como o próprio Lula, passado o escândalo, passou a fazer de conta que o mensalão nunca existiu. Deu uma guiada à direita da direita. Pôs a culpa de tudo na imprensa "golpista". E assumiu a defesa de vestais indefensáveis. É verdade que o julgamento do caso deve provocar alguns arranhões na imagem do PT nas eleições.Mas não acredito em condenações pelo Supremo. Afinal, contam-se nos dedos de uma mão os políticos acusados de corrupção condenados pelo tribunal.
Está aí Collor, hoje queridinho de Lula, para contar a história.
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