quarta-feira, junho 13, 2012

Muito além da CPI - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 13/06


Quanto mais a presidente se afasta da sua própria base, mais os partidos, em especial o PMDB, se unem à oposição. Ontem foi um desses momentos. Há outros em curso

É bom a presidente Dilma Rousseff prestar mais atenção ao que ocorre no parlamento. Enquanto ela se mantém focada nos eventos internacionais, acordos vão se formatando entre o PSDB e o PMDB. Na sessão de ontem da CPI de Carlos Cachoeira, essa parceria ficou implícita em vários momentos.

O primeiro deles, mais emblemático, foi o silêncio da deputada Íris de Araújo (PMDB-GO) ao não se manifestar na sessão. Ela passou todo o dia sem fazer sequer uma pergunta ao governador Marconi Perillo. Outro amigo foi o deputado Filipe Pereira (PSC-RJ), da trupe do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, do PMDB. O jovem parlamentar foi o primeiro a citar o episódio do mensalão do PT.

A menção ao mensalão só não foi levantada pelo PMDB para não deixar tão à vista a parceira entre a oposição e o principal aliado do Palácio do Planalto. A bola levantada por Pereira foi redondinha para Perillo cortar. O governador, então, disse que não estava ali para falar do mensalão petista, mas não deixou de mencionar que havia alertado Lula. Foi um lance com cara de jogada tão ensaiada quanto os passes da Seleção Brasileira de futebol na Copa de 1994.

Por falar em ensaio...
Diante de uma presidente que não tem lá muita paciência para o jogo político congressual, a base segue meio solta. Assim, aproximam-se aqueles que têm afinidades nessa seara. Nesse cenário, as consequências já começam a surgir. Quanto mais a presidente se afasta da sua própria base, mais os partidos se unem à oposição em vários momentos, chorando as mágoas em relação ao Planalto.

A resultante desse processo no futuro próximo será o fortalecimento da candidatura de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) rumo à presidência da Câmara em janeiro do ano que vem. Dilma não é hoje a melhor amiga do líder do PMDB. Por isso, quanto mais ela estiver longe dos congressistas, mais eles vão fechar com Henrique Alves.

O líder do PMDB foi um dos puxadores da derrota do governo no Código Florestal na Câmara. Muitos recordam ainda que, volta e meia, ele tem algum entrevero com o Poder Executivo. Há quem recorde inclusive a velha história do bambolê, um presente de Henrique Alves à então ministra Dilma Rousseff, a todo-poderosa da Casa Civil no governo Lula. Ali, ficou eternamente simbolizado para muitos políticos a falta de jogo de cintura da futura presidente com os parlamentares. Por essas e outras, Henrique é visto hoje pela oposição e pelos partidos da base como o nome mais forte para empunhar a bandeira de uma Câmara mais independente em relação ao Planalto.

Por falar em oposição...
Esse ensaio rumo ao fortalecimento político do PMDB no Congresso via parceria com os tucanos indica, dentro da CPI e fora dela, que os peemedebistas começam a trabalhar um caminho alternativo longe do PT. Afinal, se a economia fizer água, ainda que por fatores externos, os partidos consideram difícil a presidente Dilma manter os atuais índices de popularidade. E, nesse cenário, se Lula não for o candidato, o PT não tem hoje ninguém a quem recorrer para carregar a bandeira vermelha com reais chances de vitória.

É por aí que a oposição vai jogar daqui pra frente. E, dada as alianças em formatação, a CPI que serviria para emparedar o PSDB começou a virar o leme para o outro lado. Hoje, no depoimento do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, será mais um capítulo a se acompanhar.

Por falar em capítulo...
Hoje à noite, o Memorial JK será palco do lançamento do livro Momentos Decisivos — JK contra o Golpismo no Brasil. Mais um capítulo da vida do ex-presidente vem a público pelas mãos do ex-deputado Carlos Murilo Felício dos Santos, primo de JK. Indispensável para quem gosta de política e da história do presidente que construiu Brasília.

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