sábado, junho 02, 2012

Festival de erros - JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém


O GLOBO - 02/06

O imbróglio Gilmar/Lula/Jobim é o maior “pot-pourri” de equívocos e desencontros da História republicana.
Lamentável sob todos os aspectos.
Não só pelas sequelas à harmonia dos poderes, mas, principalmente pelo rompimento em dominó da amizade entre seus atores.

Fim das suspeitas
Antes do desastrado encontro, realmente, emprenhado por áulicos, Lula parecia acreditar mesmo nos boatos de que Gilmar tinha dívidas a acertar com a CPI do Cachoeira.
Depois da reunião no escritório de Jobim, Lula saiu convencido e aliviado: a contundente negativa de Gilmar não permitia dúvidas.

Levemente estranho
Gilmar, é verdade, achou esquisita aquela conversa, mas não deu a ela a importância que daria muito depois.

Descompasso
Então, o que houve de tão grave para Gilmar só reagir dias depois do encontro?
A informação atrasada de que Lula suspeitara da sua viagem a Berlim.

À luz do dia
Onde Lula errou?
Na mania do ser humano de ouvir o galo cantar, sem saber onde.
Lula sabia que o galou cantou em Berlim. Mas acreditou no que venderam a ele: viagem secreta para se encontrar com Demóstenes.
Se o ex-presidente tivesse ligado antes para o embaixador Everton Vieira Vargas, saberia que a passagem de Gilmar e Demóstenes por Berlim teve a chancela da própria representação do governo brasileiro na Alemanha.
Os dois estavam na lista de convidados de Vargas para um almoço, às 13 h, do dia 20 de abril de 2011, na embaixada brasileira.
Viagem mais secreta que essa seria impossível.

Jobim anuncia rompimento com Gilmar
Eu sabia que essa confusão toda sobraria para alguém.
Gilmar Mendes e Jobim haviam concebido um interessante projeto de resgate da memória da Constituinte. Haveria, na segunda-feira passada, a gravação de um depoimento do próprio Jobim. Ele não apareceu. Tentei saber. E ele, sem se fazer de rogado:
— Acabou! Não tem mais sentido esse projeto!
— Por quê? — perguntei desolado.
— Não, não, acabou! Não falo mais com esse cara! Depois do que ele fez, não quero mais conversa!
— Mas os senhores são tão amigos! — ponderei.
— E esse assunto acabou! Não falo mais sobre isso! E eu insistindo:
— Dizem que o senhor teria confirmado tudo a amigos — provoquei.
— Não quero saber disso! Esquece. Eles que são brancos que se entendam — respondeu-me um já quase estourado Nelson Jobim.
Diante do conselho desse mulatão, resolvi então recolher meus flaps.
Fui para o primeiro bar da esquina, discutir futebol com meus irmãos de cor Heraldo Pereira e FH.

Menos um
Os maiores perdedores dessa confusão são os próprios réus do mensalão.
Conhecido pelos votos eminentemente técnicos, muitos dos quais já favoreceram o PT, Gilmar, agora, necessariamente terá que proferir um voto político.
Para não deixar a impressão de que capitulou.

“Ah, os homens!”
Como as mulheres são diferentes.
No dia 26 de abril, enquanto os maridos Gilmar e Lula se estranhavam, Guiomar Mendes e Letícia da Silva trocavam presentes.

Copa
Ulysses Guimarães gostava de repetir seu ídolo André Malraux: “Ninguém vai ao Rubicon para pescar”.
Vivo, certamente completaria:
“Lula não foi ao encontro de Gilmar só para comer goiaba da fruteira de Jobim”.

Termômetro
Almeida Castro, o Kakay, voou ontem para Paris.
Deve ficar por lá a semana toda.
Descansando.

Viagem
Comitiva de líderes da Câmara fez o mesmo. Mas para Pequim, em missão presidida por Marco Maia. 

“Pupu! Au!”
Dilma, a vovó fofa, permaneceu quase o dia todo no Alvorada, na companhia do netinho.
Por ser o último dia da visita, Dilma optou em ficar brincando de esconde-esconde com Gabriel — a diversão preferida de avó e neto.
Dilma, fantasiada de presidente.
E, Gabriel, de Michel Temer, de quem vovó vive fugindo de se encontrar.

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