segunda-feira, junho 04, 2012

Equívocos - ROBERTO ZENTGRAF


O GLOBO - 04/06

Pois é, querido leitor, a sensação que tenho é de que vivemos um momento histórico na economia do país, com a taxa de juros Selic em nova queda e as esperanças de dias melhores para os que aqui lutam pela própria sobrevivência em seu dia a dia. Deixamos de ser os campeões mundiais dos juros altos (oba, isso é ótimo!), mas será que estamos preparados para viver nesse novo cenário (epa, isso é confuso)?

Sinceramente não tenho a resposta, e minha grande dúvida é saber se, neste período de tempo (há menos de dez anos, a Selic, hoje a 8,5% ao ano, chegou a bater 26,5% em fevereiro de 2003), fomos capazes de recondicionar comportamentos e hábitos financeiros adquiridos ao longo de décadas. Grande dilema: como tratar questões subjetivas - nossas reações - diante de fatos objetivos - a nova ordem econômica! Veja alguns equívocos que você poderá evitar!

1. Displicência: Analisando sob a ótica do investidor, quando as taxas ainda eram altas ou mesmo há mais tempo, antes da entrada do Real, quando a inflação chegava a 90% em apenas um único mês, o custo de sermos mais descansados quanto ao dinheiro não era tão alto assim. Afinal, que diferença fazia pagar 2% ou 3% ao ano de taxa de administração, por exemplo, se no fim a rentabilidade dos fundos era bem superior a isso? Bem diferente do atual cenário, onde toda e qualquer economia nos custos financeiros - taxas, administração, carregamento, impostos e outros - fazem a diferença, não é mesmo?

2. Inércia: Tão ruim quanto ser displicente é, uma vez identificadas boas oportunidades - renegociar dívidas, reduzir tarifas, mudar de bancos, migrar aplicações -, demorar demasiadamente para pular do planejamento para a ação. A título de exemplo, quem em janeiro conseguia adquirir NTN-B a quase 6% ao ano (além da correção pelo IPCA), hoje mal consegue 4,5%... E, pelo andar da carruagem, o processo de reajuste das taxas para baixo ainda deverá continuar, logo...

3. Movimentação em excesso: Achar que o oposto do equívoco anterior é ficar pulando de aplicação em aplicação é talvez tão equivocado quanto, pois o que acontecerá neste caso é você acertar as contas com o Leão a cada nova movimentação, além de fazer a alegria de corretores e administradores de recursos, país afora. Talvez o exemplo mais contundente seja o de aplicadores da poupança, que, sem entenderem a atual regra, pensam em sacar seus recursos da caderneta antiga - protegida das atuais quedas da Selic - para aplicações com perspectivas piores no longo prazo. Calma, antes de mais nada!

4. Memória: Se antes você estava acostumado a achar que investir em Bolsa era bom quando dava mais do que 20%, por exemplo, cuidado para não deixar essa lembrança afetar sua atual estratégia. Com juros de 8,5% ao ano, ganhar 16% já não estaria razoável?

5. Ilusão monetária: Mesmo com a visão do BC de que, por conta da crise, a inflação irá ceder, por enquanto o que efetivamente cedeu foi o juro real, tornando projetos de consumo maior ou planos de aposentadoria complementar mais caros em moeda de hoje. Não vá cair na bobagem de achar que os 8,5% pagos pela Selic podem ser integralmente gastos, não é mesmo?

Um grande abraço e até a próxima semana!

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