quinta-feira, junho 14, 2012

É melhor a Alemanha sair do euro? - RED JAHNCK


O ESTADÃO - 14/06

Saída da maior economia europeia desvalorizaria a moeda e beneficiaria os países em crise

O debate sobre os prós e contras da saída da Grécia da zona do euro não faz referência a um ponto: a saída da Alemanha seria melhor para todos os interessados. Se os líderes europeus não recorrerem a alguma ação radical, como a adoção e execução de algumas das alternativas de reforma por eles levantadas, a união monetária estará fadada à desintegração.

Os problemas da Grécia, Irlanda e Portugal estenderam se à Espanha, a quarta maior economia da zona do euro. A Itália provavelmente será a próxima. Os outros membros da união monetária não têm condições de ajudar a todos. Novos empréstimos servirão apenas para exacerbar o problema fundamental do endividamento excessivo e aumentará a crescente inimizade entre o grupo forte do norte e os vizinhos do sul. Sem uma vigorosa expansão econômica - com a Europa novamente às voltas com a recessão-, vários países terão de reestruturar sua dívida. A terrível experiência da Grécia com a reestruturação nos dois últimos anos sugere que seria extraordinariamente difícil fazer algo mais, quando não impossível.

A saída da Grécia da união monetária agravaria ainda mais a situação. Não existe um mecanismo para decidir, ou para agir, qualquer que seja a próxima nação, e isso pressupõe que as saídas deveriam ser administradas. A perspectiva mais assustadora é que outros países em dificuldade poderiam sair tomados de um pânico incontrolável, com uma corrida aos bancos, falências e desordem geral. O repúdio de centenas de bilhões de eurosem dívidas poderia enfraquecer o sistema financeiro europeu e até mesmo o alemão. A economia global ficaria paralisada e todos indagariam qual seria a próxima peça do dominó a cair.

Quando então ocorreria a saída da Alemanha? Com a integração e múltiplas reestruturações tão improváveis e a inquietante saída de membros mais fracos, essa seria realmente a melhor de todas as opções disponíveis.

Uma nação poderosa recorreria individualmente à melhor opção saindo de maneira relativamente rápida, concluída antes que o pânico se instalasse. Não haveria nenhuma preocupação quanto a quem sairia e quem não. Sem a locomotiva exportadora alemã, o euro sofreria uma profunda desvalorização, mas não se tornaria uma moeda totalmente destituída de valor, como, por exemplo, a dracma grega, se voltasse a ser emitida.

Com o euro desvalorizado, a saída da Grécia e a desvalorização não teriam sentido, até certo ponto. Portanto,não haveria nenhum contágio nem corridas aos bancos. Com as novas taxas cambiais tornando os paraísos financeiros não europeus dispendiosos de maneira proibitiva, e sem a ameaça de conversão forçada em moedas nacionais desvalorizadas, os poupadores do sul da Europa não precisariam correr aos bancos.

A saída da Alemanha proporcionaria benefícios imediatos a todas as outras nações da zona do euro. A desvalorização da moeda melhoraria sua competitividade comercial - exatamente o que muitos observadores preconizaram para as nações mais fracas do sul. O balanço de pagamentos da zona do euro melhoraria, proporcionando os recursos tão necessários ao serviço da dívida. Os benefícios cresceriam para a zona do euro como um todo, em contraposição à saída em massa, na qual as nações fracas acabariam esmagadas, pois cada saída aumentaria a pressão sobre o próximo candidato.

Talvez nações relativamente fortes da zona do euro, como a Holanda, pensariam um pouco antes de seguir o exemplo da Alemanha. Afinal, se decidissem sair, perderiam as vantagens comerciais proporcionadas pela moeda que acabaria de se desvalorizar, e teriam de arcar com os custos e as complicações da reintrodução da própria moeda.

Evidentemente, o euro mais barato seria pior para os investidores estrangeiros que detêm ativos em euro. Por outro lado, as perdas seriam simultâneas em termos de timing, se espalhariam igualmente a todos os credores e seriam mais moderadas nos países do sul da Europa do que na hipótese da saída do euro.

Evidentemente, há problemas que não são relativos apenas à moeda, como a crise imobiliária da Espanha e seu impacto nos bancos. Aqui a moeda desvalorizada poderia trazer novos investimentos estrangeiros.

Não obstante, os governos poderiam ter de salvar alguns bancos europeus que lutam com ativos podres ou que de alguma forma seriam prejudicados pela desvalorização do euro. A ajuda se imporia à Grécia e a outros países. A Alemanha ainda teria razões para contribuir: sua saída do euro não reduziria seu interesse vital na sobrevivência e sucesso da economia europeia.

Embora as pesquisas sugiram que a maioria dos alemães ficaria feliz de ter sua antiga moeda de volta, a Alemanha não sairia ilesa. Suas exportações cairiam porque a nova taxa de câmbio tornaria os produtos alemães muito mais caros no exterior. O país seria energicamente recriminado por violar a ortodoxia da política europeia de integração no período pós-guerra.

Entretanto, essa decisão ousada poderia evitar o desastre hoje, e não assinalaria necessariamente o fim do projeto europeu. Segundo a famosa frase, os revolucionários "fugiram para voltar à luta num outro dia", e acabaram ganhando. A Constituição americana teve um brilhante sucesso depois que a primeira tentativa de união, os Artigos da Confederação, fracassou.

Na realidade, a saída da Alemanha poderia preparar o terreno para uma vigorosa reunião no futuro. A aprendida a lição e depois de tomar consciência da realidade econômica, na segunda vez, as nações da zona do euro poderiam obter uma melhor integração./ TRADUÇÃO ANNA CAPOVILLA 

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