sexta-feira, junho 29, 2012

Barba, cabelo e bigode - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 29/06



Com tempo de tevê e fundo partidário, o PSD vira um jogador de peso na eleição municipal e na sucessão do petista gaúcho Marco Maia no comando da Câmara. É na troca de bastão no Congresso que se dará o primeiro grande movimento do partido de Kassab

Com a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) a favor da concessão de tempo de tevê ao PSD de Gilberto Kassab, abre-se a porta da esperança à criação de novos partidos. Mas não se pode esquecer de que, nesse ramo, quem chega primeiro bebe água limpa. Daí, a grande vantagem de Kassab em todos os sentidos, uma vez que agora, além de talento, ele tem um partido de peso. Ontem, ainda na euforia do momento da vitória, os comandantes do PSD avaliavam o futuro de forma bastante otimista, já apontando inclusive algumas direções a seguir em curto, médio e longo prazo no cenário nacional.

À primeira vista, pode parecer que o PSD reforçará sua aliança com o PSDB, por conta do apoio a José Serra para prefeito de São Paulo. De fato, Alexandre Schneider, indicado por Kassab para compor a vice de Serra, se consolida na chapa tucana à prefeitura da cidade. Mas os laços mais íntimos com o PSDB paulista, pelo menos por enquanto, param por aí. Os pessedistas não se esquecem que partiram do DEM, do PSDB e do PPS os movimentos contra a cessão de tempo de tevê à nova legenda. E, para completar, o jogo do PSD envolve todo o espectro da política hoje.

Kassab não pretende se afastar do PT da presidente Dilma Rousseff ou do PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos — as apostas mais viáveis do PSD rumo a 2014. Como o PSB não tem muitos braços em São Paulo, o grupo do prefeito paulistano considera a parceria com os socialistas capaz de lhes garantir uma posição mais confortável em busca de vôos mais altos no estado, como uma vaga ao Senado ou o governo paulista.

Enquanto as conversas para a sucessão presidencial moram ainda no terreno das hipóteses, o PSD acredita que seu teste a curto prazo se dará mais no campo congressual do que propriamente nas eleições municipais. O prazo das convenções termina amanhã, logo, não há muito tempo para alterar arranjos eleitorais. Mas o PSD terá, a partir de agora, espaço de poder na Câmara e lugar à Mesa Diretora na hora de discutir a distribuição dos cargos para o ano que vem. Por isso, a sucessão do petista gaúcho Marco Maia na Presidência da Câmara será o primeiro grande movimento do partido de Kassab.

As pitonisas da política têm certo que o PSD desembarcará nessa disputa com a força de um triturador de papel, picotando o acordo entre os partidos em torno da candidatura do líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves, a presidente da Casa. Primeiramente, porque interessa a muitos desestabilizar a aliança PT-PMDB — hoje fechados para fazer de Alves o sucessor de Maia. Não podemos esquecer que Eduardo Campos, um dos parceiros preferenciais de Kassab para o futuro, joga com a hipótese de ocupar o lugar de Michel Temer na chapa petista e, assim, se qualificar para concorrer à Presidência em 2018. Não por acaso, o governador de Pernambuco esteve ontem com Lula para explicar seus movimentos rumo à carreira solo em Recife. Para muitos, a conversa por si só foi um sinal de que o gesto do PSB de romper com o PT na capital pernambucana está longe de representar a queima de caravelas rumo a uma aliança nacional com Dilma ou mesmo com Lula.

Por falar em conversas de Lula…

Todas as vezes em que Lula e Eduardo Campos ficam mais de uma hora de prosa, o PMDB fica de orelha em pé. Aos peemedebistas, está cada vez mais claro que Campos e o PSD encorpado pelo tempo de tevê (e prestes a ganhar hoje o fundo partidário) estão prontos para buscar formas de tomar espaço na correlação de forças dentro e fora do Congresso. Passadas as eleições municipais e o julgamento do mensalão, esse será o próximo evento do calendário político onde cada partido mostrará mais um pouquinho o jogo futuro.

Para o PMDB, é na sucessão da Câmara e do Senado que os petistas terão a hora da verdade da aliança entre os dois partidos. Na hipótese de o PMDB se sentir escanteado do comando da Câmara ou do Senado, consequências para 2014 virão. Não dá para deixar de mencionar que o senador Aécio Neves (PSDB-MG), pré-candidato a presidente da República, circula por todos os campos da política, ciente de que a grande rede de alianças do PT se romperá em algum pedaço — e se não for agora, na sucessão municipal, será na hora da troca de comando no parlamento. Por isso, ninguém tem dúvidas de que a ebulição da política começa agora, com a sucessão municipal, e não tem prazo para terminar. A novidade é quechega mais um ator com ares de estrela em cena: Gilberto Kassab. Para alegria de uns e infelicidade de outros, o talentoso Kassab não pode ser desprezado e entra no palco com barba, cabelo e bigode nos trinques. Se continuará assim ou perderá o estilo, o tempo dirá.

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