domingo, maio 13, 2012

Só o governo salva o PIB - ALBERTO TAMER


O Estado de S.Paulo - 13/05/12


Não há mais dúvida, a economia está desacelerando. E não faltam indicadores para confirmar esse fato. Entre eles, o resultado da balança comercial até abril. Não é apenas o recuo das exportações, queda de 8%, mas das importações, menos 3,1%. Não se trata apenas de saldo da balança comercial, de superávit menor - que está sendo compensado pelos investimentos -, mas de evidente desaceleração da atividade econômica.

O Brasil está importando menos porque está crescendo menos.

Foi o dólar? E também não é apenas o efeito da valorização do dólar, pois a queda das importações não é recente. Vem registrando recuos no correr do trimestre. Estamos importando menos de tudo, bens de consumo, máquinas e equipamentos, matéria-prima e produtos intermediários.

Mas não é bom? Não seria este um sinal de que estamos produzindo aqui o que antes comprávamos lá fora? Não é bem assim porque as indústrias - que fazem essa produção - também estão importando menos matérias-primas e produtos intermediários. Desacelera apesar de os consumidores estarem comprando 11% menos bens de consumo importados.

O IBGE divulgou na sexta-feira que a produção industrial recuou 3,0% no trimestre, só em São Paulo, 6,2%. Veículos pesaram sim, mas pesou também, o que é importante, a produção de bens de capital, máquinas e bens de consumo. Sinais de que não há intenção de aumentar a produção a curto e médio prazos. "O que se observa no momento é um ambiente predominantemente negativo", diz o gerente de coordenação do IBGE, André Luiz Macedo. O instituto confirmou também que o emprego na indústria recuou 0,4% em março, pelo sexto mês consecutivo, 0,8% no trimestre e 1,2% em 12 meses.

Não deu certo. Tudo isso indica que as medidas de estímulo adotadas pelo governo após o forte arrocho para conter a inflação, não foram suficientes. Agora, o PIB pode ficar em menos de 3,0%. Se havia alguma dúvida, aí está o alerta extremo das importações de bens de consumo. Não há como esperar mais do aumento da renda das famílias com os ganhos salariais puxados pelo salário-mínimo. Eles (os ganhos) estão sendo atenuados pelo endividamento, o aumento da inadimplência, a falta de crédito a juros compatíveis com a renda e menos confiança na ação do governo. Parece claro que o impacto do aumento do consumo da classe C foi em parte absorvido e não será suficiente para reanimar a demanda global e o PIB.

Mais ação. A presidente pediu agora ação à equipe econômica, com possível rodada de desoneração tributária para a indústria. Já havia pedido isso antes. A segunda fase do Plano Brasil Maior, recebeu reação tímida do setor, que enfrenta outros problemas. Prevê-se agora uma terceira rodada com mais crédito, maior injeção de liquidez no mercado, juros menores. Mas não se resolveu ainda a questão do financiamento de longo prazo, base de investimentos de maior alcance.

Falta mais. Não se deve esperar, porém, reação imediata do setor privado. Há duas semanas, a presidente parece ter se conscientizado de que só mais investimentos do governo pode alterar esse cenário pouco animador. Dilma convocou seus ministros - não apenas os econômicos, que sempre são favoráveis a apertos - a reativarem os programas de obras e investimentos que estão travados ou caminham lentamente. Há um exemplo marcante da importância do governo, neste momento. Um dos únicos setores que ainda está crescendo é o da construção civil por causa do Programa Minha Casa, Minha Vida. O programa liberou, só este ano, R$ 5,1 bilhões bem acima do R$ 1,1 bilhão de igual período do ano anterior. Até 2014, serão RS$ 70 bilhões. Um dos resultados é que o emprego no setor de construção aumentou 18,8% no trimestre. Isso além dos efeitos positivos em outros setores que vão desde cimento, alumínio e aço até moveis e eletrodomésticos. Mas é porque estes setores não sofrem competição das importações. Tudo é feito aqui.... Não é porque houve investimento direto do governo.

Tem dinheiro. E o governo pode investir porque a receita aumentou 13,8% no primeiro trimestre em relação a igual período do ano passado e as liberações com obras apenas 3,3%, até fevereiro, quase toda concentrada no plano habitacional. Há muitos, dezenas de projetos que se arrastam ou ficaram parados como portos, rodovia (há quantos anos mesmo?)e saneamento. Um desafio para a presidente e seus ministros resolverem. Sem isso, não haverá mais crescimento este ano.

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