terça-feira, maio 01, 2012

Otimismo do governo - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 01/05/12


Seria bom, muito bom mesmo, para o Brasil e para os brasileiros, que, até o fim de 2012, tudo acontecesse de acordo com o que o Ministério da Fazenda está prevendo e acaba de tornar público com a divulgação do documento Economia Brasileira em Perspectiva. A combinação de dois dos mais relevantes indicadores econômicos, o PIB e a inflação, seria, neste ano, a melhor pelo menos desde 2007, ou seja, antes do início da crise global. Em 2012, segundo o Ministério da Fazenda, o PIB deve crescer 4,5%, bem mais do que o resultado de 2011 (crescimento de 2,7%), e a inflação ficará em 4,4%, abaixo do centro da meta inflacionária (de 4,5%). Em 2007, o PIB cresceu 6,1% e a inflação foi de 4,5%.

Um desempenho como o previsto pelo governo certamente causaria inveja num mundo ainda abalado pela crise na Europa, pelas dificuldades da economia americana para voltar a crescer de maneira sustentável, pela desaceleração da economia chinesa e pelos notórios problemas da economia japonesa. Tomara que a previsão do Ministério da Fazenda se confirme. É prudente, no entanto, examinar com atenção essas projeções e indagar se elas são alcançáveis.

A inflação voltou a ser pressionada por fatores que pareciam ter perdido força nas últimas semanas, como os preços dos serviços, que devem continuar a impulsionar os principais índices, pois muitos têm relação direta com a renda - que mantém o crescimento - e a situação do mercado de trabalho - que é boa.

Nos próximos meses, novas fontes de pressão podem surgir, quando os estímulos concedidos nos últimos tempos pelo governo e a redução da taxa básica de juros (Selic) e dos juros cobrados pelos bancos começarem a surtir os efeitos esperados. Mesmo assim, o Ministério da Fazenda reduziu sua previsão de inflação para 2012, que era de 4,7% na versão anterior de sua Economia Brasileira em Perspectiva, de fevereiro.

O crescimento do PIB, por sua vez, se confirmada a previsão para este ano, só será menor do que o de 2007, 2008 e 2010. Se as medidas fiscais e o afrouxamento da política monetária produzirem os resultados pretendidos pelo governo sobre a atividade econômica, é provável que os últimos meses do ano registrem desempenho melhor do que o dos primeiros. Essa recuperação deverá se manter e até se intensificar nos anos seguintes, pois, para 2013, o Ministério da Fazenda prevê crescimento de 5,5% e, para 2014, de 6,0%.

A despeito da possível melhora no terceiro ou no quarto trimestre, porém, mesmo dentro do governo há quem considere provável que, em 2012, o crescimento do PIB fique mais próximo de 4%.

Embora tenha sido revista para menos em relação à projeção feita em fevereiro, de 20,8% para 20,4% do PIB, a formação bruta de capital - que inclui investimentos em máquinas, equipamentos e construção civil - é alta em relação aos dados dos últimos anos. Em 2001, por exemplo, era de 16,4%. Mesmo tendo aumentado, ela nunca passou de 19,5% do PIB, índice observado em 2010, quando o crescimento do PIB foi excepcional (7,5%).

Como que para justificar a alta prevista dos investimentos em 2012, o Ministério da Fazenda relaciona em seu estudo grandes projetos, públicos e privados, anunciados nos últimos tempos ou que constam dos programas oficiais. Quanto aos projetos de responsabilidade do setor público, no entanto, convém aguardar até que eles saiam do papel e se transformem em coisas concretas, o que nem sempre acontece, e, quando acontece, nem sempre ocorre no prazo previsto.

Embora reconheça a gravidade da situação da balança comercial da indústria manufatureira - cujo resultado, entre 2005 e 2011, passou de um superávit de US$ 8,5 bilhões para um déficit de US$ 92 bilhões -, o governo considera que as medidas do programa "Brasil Maior" conterão o ritmo da deterioração. Os problemas, no diagnóstico do governo, foram causados fundamentalmente pelas políticas cambiais de outros países. Nada se diz sobre a necessidade de restabelecer a competitividade da indústria, com mudanças tributárias e trabalhistas, entre outras, além da recuperação da infraestrutura econômica.

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