quarta-feira, maio 23, 2012

O G-10 da CPI - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 23/05


Já começam a surgir indícios de que blindagem e CPI não combinam. A Justiça do DF quebrou o sigilo da Delta e a CPI terá acesso aos documentos. Ou seja, o escudo que protegia a Delta nacional caiu

Quem assistiu ao não depoimento de Carlinhos Cachoeira à CPI que investiga os negócios do contraventor e suas relações com as autoridades públicas deve ter pensado que a comissão não passa de um teatro. Realmente, valendo-se da máxima “a primeira impressão é a que fica”, essa CPI talvez já esteja carimbada como tal. Percebe-se ainda, à primeira vista, dois grupos — os tucanos fazem perguntas sobre Agnelo Queiroz (PT), o governador do Distrito Federal, e os petistas tratam de jogar Cachoeira no colo do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Normal, em se tratando de partidários que querem defender os seus. Mas a sessão de ontem nos traz mais do que isso.

Toda Comissão Parlamentar de Inquérito que se preze tem um grupo de parlamentares que fura as blindagens. Pelo menos as mais grosseiras, como essa com a qual os partidos pretendem proteger os governadores. Na CPI do caso PC, esse grupo era grande. Reunia nomes como os ex-senadores Mário Covas (PSDB-SP), Maurício Corrêa (PDT-DF) e Pedro Simon (PMDB-RS). Simon é, até hoje, uma referência no Congresso, um dos poucos que, vez por outra, chama a atenção dos próprios colegas.

No Orçamento, houve mais: Sigmaringa Seixas, então deputado pelo PSDB do Distrito Federal, Miro Teixeira (PDT-RJ), Covas, Simon e Jarbas Passarinho (PDS-PA) — que foi o presidente —, Roberto Magalhães — o relator — e o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN). Isso sem contar os petistas José Dirceu e Luiz Gushiken. Esses dois, infelizmente, quando no governo, terminaram envolvidos em problemas talvez tão graves quanto os do Orçamento que ajudaram a investigar.

Por falar em Miro…
Miro Teixeira é, talvez, o único integrante da CPI do Cachoeira que acompanhou todas as comissões de inquérito mais importantes ao longo da história recente do país. Integrou, por exemplo, a CPI que investigou a rede fantasmagórica que cercava o Planalto nos tempos colloridos. Não por acaso, sempre olha meio atravessado para o ex-presidente, que hoje faz parte de uma CPI como investigador.

Miro integra o G-10 da nova CPI, ou seja, o grupo que pretende realmente investigar quem se serviu do esquema de Carlos Cachoeira e quem prestou serviços à quadrilha dentro do poder público constituído. Nesse rol, estão alguns parlamentares que passaram por outras comissões de inquérito, caso de Carlos Sampaio (PSDB-SP), Onyx Lorenzoni (DEM-RS), Delcídio Amaral (PT-MS) e Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP). Essa turma já esteve junta, por exemplo, na CPI dos Correios, que terminou investigando o mensalão. Ali, essa turma ajudou que o processo chegasse ao Ministério Público e ao Supremo Tribunal Federal (STF). E agora promete repetir a dose, levando a esse grupo novos personagens recém-chegados ao Parlamento.

Por falar em novos…
Já estão na listagem desses parlamentares Pedro Taques (PDT-MT), Randolfe Rodrigues (PSol-AP), Glauber Braga (PSB-RJ), Chico Alencar (PSol-RJ) e Fernando Francischini (PSDB-SP). Uns pela experiência como investigadores, casos de Francischini e de Taques. Os dois do PSol e o do PSB entram pelo tempo que têm dedicado à comissão.

Por enquanto, são esses os cavaleiros identificados por muitos como aqueles que tentarão furar as blindagens. Os dois tucanos, por exemplo, são de São Paulo e não se cansam de repetir que Marconi Perillo jamais se recusou a comparecer. Esse grupo pode aumentar, a depender do comportamento de cada um. Não será surpresa se Luiz Pitiman, do DF, que não sai das salas da comissão, também fizer parte. Afinal, quanto mais deputados fizerem parte daqueles que desejam investigar ao estilo doer em quem doer, melhor para a imagem do Congresso. E, convenhamos, está na hora de eles fazerem alguma coisa para dar uma levantada no visual.

Por falar em blindagem…
Vale registro um certo nervosismo por parte do relator da CPI, Odair Cunha (PT-MG), quando o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) mencionou a Operação Saint Michel, da Polícia Civil do Distrito Federal, que trata do interesse da Delta na bilhetagem eletrônica do transporte público no DF. Na semana passada, num cochilo dos “blindeiros”, Onyx aprovou, por unanimidade, pedido para que a CPI tenha acesso aos documentos da Saint Michel. Nessa operação, os delegados pediram e obtiveram a quebra de sigilo bancário da matriz da Delta Construções, no Rio. Onyx ontem deixou claro, num discurso meio rebuscado quase no fim da sessão, que deu um “chapéu” naqueles que tentaram evitar a luz do sol sobre essas informações. Agora, com esse “jeitinho”, basta esperar os papéis chegarem aos responsáveis pela Saint Michel para serem repassados. Esse pequeno detalhe mostra que blindagem e CPI não combinam. E, felizmente, começa a se formar um grupo na comissão para furar escudos.

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