quinta-feira, maio 10, 2012

Nas asas oficiais - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 10/05/12
O JBS vai fazer agora um grande favor ao governo e um grande negócio, ao mesmo tempo. Até então, o grupo tinha feito grandes negócios com favores do governo. Sua holding J&F vai assumir a Delta, a empreiteira que vive uma cachoeira de acusações e que é a maior nas obras do PAC. Se ela quebrasse, seria um desastre para o governo. Nos últimos anos, o grupo JBS recebeu um suporte financeiro do BNDES de cerca de R$ 13,3 bilhões.
Todas as grandes compras da família Batista nos últimos tempos tiveram ajuda do BNDES e BNDESPar. De vários tipos: financiamento para compra de outras empresas, empréstimos, aquisição de debêntures que depois viram capital no grupo.

Foi assim que o BNDES virou sócio do frigorífico. Tanto emprestou através de compra de debêntures conversíveis que acabou ficando assim a divisão de capital do JBS: FB (de Família Batista) 44,6%; BNDES, 31,4%. O resto, ações em mercado.

A empresa teve crescimento exponencial nos últimos anos, entrou em várias áreas, está se diversificando de forma espantosa, e tem como companheiro inseparável nos seus voos econômicos o banco estatal de investimento.

São várias operações. Em 2007, o BNDESPar subscreveu R$ 1,1 bilhão em ações da empresa para a compra da Swift & Co, nos Estados Unidos. Em 2008, nova subscrição de R$ 1 bilhão em ações para apoiar a compra da National Beef Packing e Smithfield Beef Group, também nos Estados Unidos. Em 2008, subscreveu R$ 2,5 bi em ações da Bertin para, segundo o BNDES, "suportar o plano de negócios da empresa". Parece que o plano não suportou a realidade. Logo depois, o JBS ficou com a parte de frigoríficos da Bertin, levando a empresa já engordada com o dinheiro do banco.

Em 2009 e 2010, o JBS emitiu debêntures em R$ 3,5 bilhões e o banco comprou 99,9%. O "resto" ficou com a família Batista. Foi o dinheiro que o grupo usou para comprar a Pilgrim"s nos Estados Unidos. O banco depois transformou todas as debêntures em ações do grupo.

Além disso, os frigoríficos do grupo receberam mais R$ 2,5 bilhões em empréstimos diretos do BNDES, entre 2005 e 2012. A última grande operação entre JBS e BNDES foi um novo financiamento, desta vez de R$ 2,7 bilhões, em junho de 2011, para o investimento na construção da Eldorado Celulose e Papel, em Minas Gerais. O dinheiro está sendo desembolsado. Outros sócios da Eldorado são os fundos de pensão de estatais Petros e Funcef. Segundo o grupo JBS, a Eldorado, a ser inaugurada este ano, será uma das maiores empresas de celulose de eucalipto no mundo. Em produção de proteína animal, o JBS já é o maior do mundo.

Hoje, o grupo está na produção, processamento e comercialização de carnes bovina e de aves, compra e engorda de bois, agricultura, celulose e eucalipto, cosméticos e limpeza, lácteos e na área bancária. O Banco JBS engordou ao comprar o Matone com dinheiro do Fundo Garantidor de Crédito. Agora entra no rentável negócio de empreitadas para o governo.

Recentemente, informou-se que a empresa está comprando os negócios do Independência. E nisso aí é outro favor que faz ao BNDES. O projeto do banco de criar campeões nacionais na área de carne, induzindo uns a comprarem outros, teve alguns fracassos. Bertin, por exemplo, um dos escolhidos, teve que ser vendido logo depois que o BNDES entrou de sociedade na empresa. Aliás, foi para o setor elétrico com a ajuda do governo e também não teve bom desempenho. Mas no complexo carne o maior desastre foi o Independência.

O BNDES entrou de sócio pagando R$ 250 milhões ao Independência e logo depois o frigorífico quebrou. Atualmente, um processo corre sob segredo de Justiça na Câmara de Arbitragem da Bolsa de Valores de São Paulo, no qual o banco tenta reaver o dinheiro que usou com imperícia ao comprar ações de um frigorífico quebrado. O JBS agora vai comprar o que resta da empresa e assim o caso tem uma chance de final feliz.

A mesma oportunidade de limpeza pode-se vislumbrar agora. Se o J&F, onde o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles é presidente do conselho, assumir a Delta, as obras do PAC, da Copa e das Olimpíadas não sofrerão atrasos, interrupções ou suspensões.

O governo dirá que não é o BNDES que vira sócio da Delta, porque o banco é sócio do JBS. Só que ele é o começo do grupo e seu principal ativo. Portanto, sim, o banco é sócio de uma empresa controlada por uma holding que vai assumir a Delta.

JBS são as iniciais de José Batista Sobrinho, empresa fundada por um mineiro que foi para Goiás e que até a construção de Brasília era apenas um pequeno estabelecimento. Com as obras, o patriarca foi para as imediações da capital e passou a fornecer carne para os que chegavam de todas as partes do país. Assim deu os primeiros passos para virar empresa. Era um caso de moderado sucesso mas deu saltos ornamentais nos últimos anos com empréstimos e venda de ações para o BNDES.

A filosofia do grupo é comprar uma empresa em dificuldades ou quebrada, mudar a gestão, e assim ganhar com isso. Dentro desse aspecto, a Delta seria apenas mais uma. Deveria ter encantado o mercado, já que está crescendo. Mas as ações do grupo têm sofrido muito há muito tempo: sobe um pouco e cai, sobe um pouco e cai. Teve forte queda de 5,7% nos últimos dois dias - mais que o Ibovespa - quando começou a ventilar o rumor de que, além de todas as outras áreas, viraria também uma empreiteira.

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