quarta-feira, maio 09, 2012

Mais um pibinho? - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 09/05/12


O crescimento dos estoques de veículos, para os níveis mais altos em três anos e meio, e a derrubada das vendas em abril, de 14,2% sobre as de março, indicam que algo não se comporta como pretende o governo Dilma - que planeja avanço do PIB superior a 4,5% neste ano.

Há mais indicações de mudanças importantes nesse mercado. O volume de financiamentos novos de veículos tende a cair (veja o gráfico ao lado) e o nível da inadimplência está aumentando.

Em parte, esse fraco desempenho é consequência de situação artificial anterior. Entre janeiro de 2009 e março de 2010 o governo incentivou as compras com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Esse fator antecipou compras pelo consumidor. E o mercado financeiro contribuiu com a saturação do segmento, quando disputou o consumidor com financiamentos para compra de automóveis de até 90 meses sem entrada.

A queda dos preços dos carros usados vem sendo forte. Em dois anos, o veículo perde mais de um terço do seu valor de mercado - como mostrou matéria de Cleyde Silva, noEstado de 12 de fevereiro. Nessas condições, a garantia dada ao banco por ocasião do financiamento perde qualidade. Embora a reserva de domínio continue sendo considerada um dos melhores fatores de segurança para a instituição financeira e principal razão da prática de juros mais baixos no crédito, a forte queda dos preços dos carros usados tirou sua importância. Neste prazo (dois anos), o saldo da dívida contraída no financiamento se mantém mais alto do que o valor da garantia, que é o preço do automóvel no mercado. Nem o proprietário obtém bom preço para dar de entrada num veículo novo, nem o banco consegue recuperar com a revenda do veículo o saldo do financiamento. São razões fortes demais que atuam para desacelerar o crédito.

As exportações também não ajudam. Caíram 4,9% sobre igual período do ano passado. A crise global vem contendo as encomendas. Além disso, o made in Brazil padece da doença crônica já conhecida, que o impede de acessar os mercados: é caro demais, porque enfrenta o insuportável custo Brasil, que trava o resto da indústria.

Esse quadro indica que, mesmo avançando mais rapidamente do que o PIB; e mesmo se baseando na expansão do emprego e da renda; o crescimento acelerado do consumo total no País (e não só o de carros) começa a esbarrar em limitações naturais. A rápida elevação do endividamento familiar é uma delas. Diante do aumento da inadimplência, a falta de apetite dos bancos pela expansão dos financiamentos é outra. Não haverá o que os force a perder dinheiro.

Como já enunciado, esse é um quadro geral que torna mais difícil o cumprimento do projeto do governo de obter, neste ano, crescimento do PIB entre 4,0% e 4,5%. Provavelmente nem as projeções mais conservadoras do Banco Central (crescimento do PIB de 3,5%) terão condições de acontecer.

A mera redução dos juros, destinada a estimular ainda mais a economia brasileira, não parece suficiente para evitar mais um pibinho.

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