sexta-feira, maio 11, 2012

E Paulinho limpou a mão... - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 11/05/12


Não adianta a presidente Dilma Rousseff escolher ministros ou vice-presidentes do Banco do Brasil para tentar ajudar os petistas em várias capitais. Os políticos não querem misturar essas estações, embora considerem natural trocar cargos por votos no Congresso


O tempo vai passando e o 1º de maio ainda rende histórias no plenário da Câmara. Esta semana, por exemplo, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho da Força Sindical, pré-candidato a prefeito de São Paulo, contava uma para quem quisesse ouvir. Numa roda de deputados, comentava que, na festa paulistana para comemorar o Dia do Trabalho, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad chegou logo lhe estendendo a mão. Paulinho, por sua vez, passou as suas duas mãos na própria camisa e nas pernas e, diante de um Haddad perplexo, foi direto: “Fernando, você nunca me deu a mão, nem me recebeu quando era ministro. Eu tinha que, agora, limpar a minha mão para apertar a sua”. Haddad sorriu amarelo naquele instante. Mas os deputados que estavam em volta de Paulinho esta semana deram risada.

A cena serve para ilustrar como não adianta a presidente Dilma Rousseff escolher ministros para tentar ajudar os petistas em vários estados. Nem mesmo nomear César Borges, do PR, para o Banco do Brasil garante que o partido fique ao lado de Haddad ou de outro nome petista nas capitais, nem mesmo Salvador. Os políticos não querem misturar essas estações, embora achem natural trocar cargo por votos no Congresso. Prova disso é que um dia depois do anúncio do nome de Brizola Neto (PDT-RJ) ser anunciado como novo ministro do Trabalho, lá estava Paulinho, deixando o pré-candidato do PT a prefeito de São Paulo constrangido e sem graça. E isso ocorreu antes de o Ibope divulgar que Haddad mantém 3% das intenções de voto paulistanas, enquanto José Serra (PSDB) aparece com 31%.

Haddad não era mesmo de dar muita atenção aos políticos, tampouco gastava solas de sapato percorrendo eventos de seu partido no período em que ficou no Ministério da Educação. Tinha o comportamento inverso ao do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que não deixa dar o ar da graça em eventos do PT, especialmente em São Paulo. Agora, ao se “enturmar” com a base, soa falso. Chegou-se a situação que, ou Lula entra logo em campo, ou o petista pode não ter tempo de virar o jogo a seu favor.

Por falar em jogo…
Líder nas pesquisas, José Serra tem entre seus aliados os maiores entusiastas da CPI que investiga as relações do bicheiro Carlos Cachoeira. Afinal, enquanto a CPI estiver dominando o noticiário, menos espaço haverá na mídia paulista para a exibição das movimentações de Haddad, que precisa de exposição.

Para completar os problemas do PT, se Haddad se mantiver concretado nos 3% por mais tempo, ficará difícil seu partido conseguir que os demais integrantes da base da presidente Dilma Rousseff desistam de lançar candidatos a prefeito, como pediu Lula no início do processo. Hoje, a sensação entre os petistas é a de que a vida de Haddad realmente não será fácil daqui para frente: uma profusão de candidatos, numa cidade onde Lula jamais conseguiu transferir prestígio para eleger candidato a governador ou a prefeito.

De quebra, ainda vem por aí o julgamento do mensalão e as agruras na CPI, hoje imprevisíveis. Nada garante que o caso ficará restrito ao senador Demóstenes Torres, aos deputados que já foram citados ou ao governador de Goiás, Marconi Perillo, como se calculava no início do processo.

Por falar em agruras e CPI…
A compra da Delta Construções pela JBS sem colocar dinheiro merece mesmo uma lupa. Não ouvi um só empresário ou político dizendo que essa compra era, digamos, um negócio da China. Vejam só a situação da JBS, por exemplo. A empresa estava lá quieta no seu canto. Bastou anunciar a compra da Delta para que ressurgissem o financiamento recebido do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e os projetos políticos de um dos sócios do grupo, José Batista Júnior, pré-candidato ao governo de Goiás. Para muita gente, a forma vapt-vupt com que o grupo controlador da JBS tomou conta da Delta terminou por fazer dos compradores um novo veio para se trilhar na busca de desvendar as intrincadas relações da política de Goiás, de onde saíram Cachoeira; o ex-tesoureiro do PT e réu do mensalão Delúbio Soares; entre outros.

Lá só não é território de Fernando Cavendish, o ex-dono da Delta que a turma da política aposta que está pronto para deixar o Brasil. Afinal, nada impede que ele viaje para onde quiser. Quem conhece desse traçado, garante que basta o empresário comprar uma rede de postos de combustíveis nos Estados Unidos, gerar empregos e, assim, solicitar um green card. Houve um tempo em que os filmes citavam o Brasil como refúgio de americanos enrascados com a justiça estadunidense. Hoje, ao que parece, a rota está a um passo de se inverter. Vamos aguardar.

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