quarta-feira, maio 23, 2012
A desvalorização do real não favorece a exportação - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 23/05
Já que a taxa cambial apresenta importante desvalorização, é particularmente útil analisar como o comércio exterior está reagindo a isso.
Podemos admitir que é muito cedo para que a desvalorização tenha tido efeitos, tanto sobre as exportações - que deveriam aumentar - quanto sobre as importações - que deveriam diminuir. A questão é que as exportações, de modo geral, são negociadas com meses de antecedência, especialmente no caso de algumas commodities, o que se verifica também para algumas importações, que geralmente aumentam em período de festas. Todavia, o intercâmbio internacional é sensível à política cambial que os países adotam, e o Brasil nunca escondeu sua vontade de adotar medidas que favorecessem a desvalorização da moeda nacional. Se o efeito da nova política cambial ainda não é totalmente visível, há que se admitir que ele começa a se verificar.
Nesse sentido, os dados da terceira semana de maio podem servir de alerta: com 5 dias úteis a semana apresentou, por dia, US$ 1,019 bilhão de exportações, valor 16,1% menor do que a média diária verificada até a segunda semana do mês - queda bastante significativa. Foram os produtos básicos que sofreram a maior queda (26,2%), e entre eles predominam o minério de ferro, o complexo soja e o petróleo. Para a queda, muito contribuíram as encomendas da China, tanto em volume quanto em preços. As vendas de produtos manufaturados tiveram uma redução de 7,6%, evidenciando que a desvalorização do real não é o único problema nessas exportações.
Lembramos que, no mês de abril, os bens de consumo duráveis haviam acusado uma queda de 22,2% em volume e um aumento de 5,4% em valor. Estamos sofrendo com a crise europeia e com a lenta recuperação da economia norte-americana. Em compensação, os bens semimanufaturados apresentaram aumento de 1,6%, principal efeito da desvalorização do real.
Como se podia prever, a desvalorização do real ante o dólar tem um efeito sobre as importações, que acusaram, na terceira semana de maio, uma queda de 7,9% em comparação com a média das duas semanas anteriores. Os principais bens que sofreram redução foram as máquinas, pela ausência de investimentos; os aparelhos eletroeletrônicos; os automóveis, em razão do aumento de tarifas aduaneiras; os produtos farmacêuticos; e os instrumentos de ótica e precisão. Podemos prever que essa redução se acentuará nos próximos meses, tendo já um efeito sobre as compras dos turistas brasileiros no exterior.
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