segunda-feira, maio 07, 2012

Crédito: a necessidade de ousar - ALDEMIR BENDINE


FOLHA DE SP - 07/05/12


Há cada vez mais cidadãos com acesso a crédito no país. Muitos estavam antes alijados do mercado formal, sujeitos à ação predatória de agiotas


Há uma conjunção de fatores que permitem, especialmente aos bancos públicos, anunciar novos patamares de juros e ações catalisadoras da redução dos "spreads".

Não são medidas oportunistas, lastreadas pelas expectativas de curto prazo. São movimentos consolidados no tempo, tanto no cenário mais geral, de fortalecimento da economia do país, quanto no âmbito das políticas e ferramentas de crédito.

A renda dos brasileiros aumentou, as empresas ampliaram os seus investimentos e os reflexos diretos sobre os níveis de consumo beneficiaram a todos.

Milhões de cidadãos passaram a ter acesso aos benefícios diretos da economia formal. As operações de crédito no sistema financeiro nacional cresceram e equivalem hoje a quase 50% do PIB -esse índice era de 15% há bem pouco tempo.

A redução da taxa Selic e os cenários macroeconômicos apontam para uma nova realidade quando se trata do custo do dinheiro.

No sistema bancário, os desafios para que as instituições chegassem bem preparadas a esse momento foram, e continuam sendo, muito grandes. Entre eles, estão aperfeiçoar estudos de riscos, investir em pesquisas sobre o comportamento de consumo dos clientes, automatizar processos internos, diversificar receitas e aumentar a rentabilidade das operações.

No âmbito da livre opção bancária, tornou-se necessário, e mais que oportuno, investir em uma nova ação anticíclica. A crise de liquidez de 2008 e 2009 e as maneiras diferentes pelas quais os bancos se posicionaram naquele contexto trouxeram lições. A principal é a necessidade de ousar.

É preciso quebrar paradigmas na reavaliação dos custos de linhas de crédito muito acessadas pelo público, sobretudo as de consumo e as direcionadas para formação de capital das micro e pequenas empresas. Também é necessário investir em modelos inovadores de assessoria financeira que favoreçam o consumo consciente. Afinal, o ciclo virtuoso do crédito também trouxe o debate sobre o endividamento excessivo das famílias e de empresas.

O imperativo de monitorar todos os fatores que decorrem da expansão do crédito está na base da estratégia dos bancos públicos de oferecer menores taxas e de atuar no provimento de informações sobre o crédito consciente para os elos mais frágeis da cadeia de consumo.

No caso do Banco do Brasil, esse conjunto de ações define o Programa Bompratodos, recém-iniciado. Além dos juros mais baixos, o BB oferece ao cliente a substituição do uso recorrente de recursos mais caros por financiamentos automáticos da dívida, com taxas bem menores.

Os cidadãos com acesso ao crédito são cada vez mais numerosos no Brasil. Serviços de assessoria financeira são uma forma de abrir as portas a esse grupo que iniciou há pouco tempo seu relacionamento com o sistema financeiro.

Em muitos casos, são pessoas antes alijadas dos mecanismos formais de crédito, que estavam sujeitas à ação predatória de agiotas e do mercado paralelo.

O crédito consciente também funciona como mitigador de riscos. A educação financeira é uma ferramenta que contribui para compatibilizar o acesso aos recursos com a real capacidade de endividamento das pessoas. São estabelecidas, dessa forma, as bases de relações creditícias que, por se estenderem no longo prazo, favorecem consumidores, bancos e a própria economia.

Todos podem se beneficiar com esse novo momento. A sociedade sempre reivindicou movimento mais agressivo dos bancos no sentido de reduzir juros. A hora de materializar esse anseio coletivo em medidas concretas chegou.

Chegou também o tempo de investir no crédito consciente não apenas como atitude cidadã, mas como instrumento adequado à nova realidade da economia brasileira. Momento fecundo para se quebrar paradigmas na oferta de crédito.

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