quinta-feira, maio 10, 2012

Barreiras no Mercosul - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 10/05/12


Protecionismo da Argentina só pode ser tolerado se for de fato provisório, com compromisso de retomar integração no médio prazo
Os recorrentes entreveros entre Brasil e Argentina podem passar a impressão de que vai particularmente mal o comércio entre os dois países. Não é verdade.
As exorbitâncias protecionistas argentinas, contudo, mais e mais se tornam um empecilho ao progresso do que, enfim, deveria ser a área de livre-comércio do Mercosul.
Mais de 8% do comércio exterior brasileiro ocorre com a Argentina, terceiro maior parceiro depois de China e Estados Unidos.
Desde 2004, o Brasil tem saldos comerciais crescentes com o vizinho, após nove anos de deficit. Desde 1995, o intercâmbio com a Argentina cresceu tanto quanto as trocas com o restante do mundo (pouco mais de quatro vezes), excluídos os negócios com a China (que se multiplicaram por 34).
A integração com a Argentina deveria ter sido mais rápida. Tumultos econômicos dos dois lados da fronteira e o desesperado intervencionismo argentino emperram a liberação do comércio.
Excluída, na prática, do mercado financeiro internacional desde o calote de 2001, a Argentina corre o risco de se ver privada de reservas internacionais. O perigo se acentua com a fuga de capitais, mais intensa nos últimos dois anos, e pela escassez de investimentos externos diretos (apenas 11% do que o Brasil recebeu em 2011). O saldo comercial é o balão de oxigênio (ou seja, de moeda forte) argentino.
O governo de Cristina Kirchner impôs, em fevereiro, controle burocrático ainda mais rígido de importações, que prejudica em especial empresas brasileiras. Exige que importadores exportem valor equivalente ao de suas compras no exterior, o que produz extravagâncias como indústrias vendendo produtos agrícolas no exterior.
Tais medidas ajudaram a reduzir o comércio bilateral, neste primeiro quadrimestre, em 9,5% (no total, o comércio brasileiro cresceu 4,5%). Sem reação do Brasil, o resultado tende a ser ainda pior.
O governo Dilma Rousseff pode, é claro, negociar e aceitar algumas restrições dos argentinos, vizinhos importantes -90% das exportações brasileiras para a Argentina são de produtos manufaturados.
Os argentinos, porém, deveriam ser os primeiros a refletir sobre a ineficácia de seu intervencionismo. Indústrias padecem de escassez de insumos importados a ponto de interromper a produção. Como a Argentina carece de investimentos e a capacidade ociosa de suas fábricas é mínima, ela precisa importar para poder crescer.
Tolerar desvios emergenciais não significa aceitar um congelamento definitivo do Mercosul. As barreiras devem ser provisórias, admitidas sob a condição de que os vizinhos subscrevam um plano para retomar a integração a médio prazo. Já se foi o tempo de passar cheques em branco para sucessivos governos argentinos.

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