quinta-feira, maio 03, 2012
ALBERTO TAMER - Naufrágio europeu
O Estado de S.Paulo - 03/05/12
O desemprego na zona do euro chegou a 10,9%, a produção industrial desaba e mais países entram em recessão em consequência da severa política de ajuste fiscal sem qualquer incentivo ao crescimento. E ninguém faz nada. Ao contrário, diz o Nobel de Economia, Paul Krugman, os políticos europeus estão fazendo tudo para piorar: "É o suicídio da Europa".
Outro Nobel, Joseph Stiglitz, concorda. Para ele, austeridade fiscal sem incentivo ao crescimento "é o caminho do suicídio". Ele até ironiza, "nunca houve antes um programa de austeridade tão bem-sucedido...."
Os políticos europeus insistem que é preciso, primeiro, mais ajuste fiscal para superar a crise da dívida, mas esquecem que ninguém investe em economias em recessão. Os investidores privados se desfazem de títulos soberanos, fogem para países mais seguros.
Insanidade. "Tudo isso é muito insano," diz Krugman. Todos concordam. Aumentar impostos, cortar salários e gastos em economias deprimidas levam a déficits orçamentários e à deflação e aumentam o peso da dívida, exatamente o que os políticos europeus estão fazendo.
É grave? Sim. Gravíssimo porque a Europa não afunda sozinha. Dados oficiais mostram que ela representa 25% do PIB e 20% do comércio mundial. Isso explica por que o FMI reduziu a previsão de crescimento mundial para apenas 3,3%, este ano, puxado por uma recessão na zona do euro, menos 0,5%. Pode ser pior porque nada está sendo feito.
Mas a Alemanha mudou! Parecia, sim, mas não mudou. Diante de tanta pressão, Angela Merkel, a "xerife"da zona do euro, deu sinais, no sábado, que a Alemanha ia mudar. Afirmou que a União Europeia estava preparando uma agenda de crescimento. Mas três dias depois, seu ministro de Finanças, Wolfgang Schaeuble, desmentiu tudo e a Comissão Europeia concordou: não há nenhum plano nem estudo para garantir o crescimento na zona do euro. A prioridade continua sendo a consolidação fiscal, pois sem isso não há crescimento "sustentado".
Humor negro. Merkel e seu ministro falam em atrair investimento privado para o pouco ativo e menos capitalizado ainda Banco Europeu de Investimento, tão importante que ninguém se lembrou dele até agora. Deve ser humor negro, pois esse banco, constituído por capital privado e dos governos europeus, esteve recentemente com a nota de crédito ameaçada. Tem um capital de 50 bilhões e está atrasando liberações para os países atingidos pela crise.
Diante disso, o Parlamento Europeu aprovou projeto para alterar as regras. Os recursos do banco haviam sido usados para comprar títulos dos países em crise. Talvez seja isso a que Merkel se referia ao falar em "flexibilizar o uso dos recursos do banco", e aumentar em mais 10 bilhões seus recursos que, atentem, são captados em sua maior parte no mercado de capitais.
Ainda bem que o Brasil está se protegendo muito bem. Reservas crescentes, recursos líquidos trilionários no Banco Central e no Tesouro, equilíbrio fiscal, contas ajustadas, dívida sob controle e incentivo ao crescimento. Exatamente tudo que os europeus se recusaram a fazer.
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