terça-feira, maio 15, 2012
A agonia da Grécia - CELSO MING
O ESTADO DE S. PAULO - 15/05
Há muito não se via (não se ouvia) tanto pessimismo em relação ao futuro da Grécia e do euro. Ontem, por exemplo, o vice-presidente da Grécia,Theodoros Pangalos, avisou que a eventual saída do euro lançaria o país numa" falência selvagem". Comunicado do Fundo Monetário Internacional advertiu, também ontem, para o risco de "acidente político" na Grécia, que ameaçaria todo o bloco.
A hipótese de que a Grécia adote moeda própria começa a ser admitida abertamente por autoridades até do Banco Central Europeu - sugerindo que estão preparados para o tranco.
Banqueiros, em geral tão comedido sem suas análises, não param de advertir para a possibilidade de acontecimentos nefastos. O último relatório de um dos maiores bancos da Espanha, o BBVA, alerta que o nível de tensão que vem por aí é pior do que o de 2008, após a quebra do Lehman Brothers-relatou ontem o diário madrilenho El País.
O Prêmio Nobel de Economia de 2008, Paul Krugman, prevê a aproximação de alguns horrores: a adoção do racionamento de saques nos bancos (corralito) na Espanha (e não é nem na Grécia) e o desmonte do euro. Seu novo livro leva o título de O crepúsculo do euro.
Parecem todos ávidos por um desenlace, qualquer que seja ele,para acabar com a agonia. E, nisso, lembram o chanceler da Alemanha durante a República de Weimar, Philipp Scheidemann, para quem era "melhor um fim com terror do que o um terror sem fim".
O que está em questão não é a imposição da austeridade ao povo grego, que alguns entendem ser excessiva,mas,sim,o risco de desintegração da área monetária, algo que nenhuma autoridade se atreveria a considerar há semanas.
O fato concreto é a incapacidade das forças políticas da Grécia de fecharem acordo para constituir um governo, depois de tentativas fracassadas dos três mais importantes políticos. Hoje, eles tentam de novo.Mesmo se conseguirem, parece remota a possibilidade de que nova eleição imponha um tie- break nesse jogo. E isso significa que a Grécia está sujeita a ter de decretar a suspensão dos pagamentos (falência) sem comando político legitimado pelas urnas.
Até agora, um dos principais fatores que impediram o desfecho final foi o temor do que pudesse vir depois. As consequências mais sérias podem não ser o brutal empobrecimento do povo grego, o bloqueio das contas bancárias e a quebra de salários.O risco maior é de que os prejuízos não se circunscrevam ao povo grego,mas se espraiam pelo efeito contágio para as economias mais vulneráveis, como Irlanda, Portugal e Espanha.
Um dos maiores problemas desta crise é a falta de credibilidade das autoridades da área. Há meses, por exemplo, a saúde dos bancos da região foi submetida a um supostamente rigoroso check-up (os tais testes de estresse). Dirigentes da área proclamaram que só oito bancos teriam reforço patrimonial, de módicos 2,5 bilhões de euros. Entre bancos da Espanha que careciam de alguma transfusão de capital não estava o Bankia, que agora mostra rombo de 10 bilhões de euros e precisou ser socorrido pelo governo.
O Brasil aparece relativamente bem nesta crise. Mas parece inevitável que pague certo preço em perdas comerciais, desvalorização de ativos,adiamento de investimentos e menos abertura de postos de trabalho. A conferir.
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