segunda-feira, abril 02, 2012
Quase normal - GEORGE VIDOR
O GLOBO - 02/04/12
A batalha ainda não está vencida, mas é grande a possibilidade de a economia brasileira passar do estágio dos juros básicos "excessivamente elevados" para o de simplesmente "altos". Já o estágio seguinte, de juros normais, dependerá de algumas mudanças estruturais, entre as quais a eliminação completa do déficit do setor público (que no momento equivale a 2,4% do Produto Interno Bruto), prevista para 2015.
Tais mudanças também terão de ocorrer no sistema produtivo, para que a inflação caia de patamar. A economia brasileira sem dúvida carrega uma parcela de inflação estrutural, em decorrência de vários fatores (custo do capital, deficiências de infraestrutura, despreparo da mão de obra, gestão deficiente, carga tributária pesada e inadequada, além de escalas de produção que não ajudam a se obter ganhos de produtividade relevantes). No passado, economistas travaram grande discussão sobre isso, com um dos lados atribuindo, no processo inflacionário, demasiado peso à questão estrutural, e o outro que considerava o fenômeno apenas uma questão puramente monetária. Ambos os lados não deixavam de ter razão. Hoje, olhando pelo retrovisor, é possível ver com mais clareza impacto real desses fatores e, o que facilita a tomada de decisões em relação a como agir sobre eles.
Até o fim do ano a Statoil deve atingir o pico de produção (100 mil barris de petróleo pesado por dia) em Peregrino, Bacia de Campos, assumindo, assim, o segundo lugar entre os maiores produtores de óleo cru no Brasil. A empresa norueguesa é a operadora do campo, detendo 60% do que é lá produzido; os demais 40% pertencem aos sócios chineses (Sinochem). Atualmente ocupa o terceiro lugar, atrás da Shell, que continuará disputando a posição palmo a palmo, pois a empresa anglo-holandesa se prepara para ampliar a produção no Parque das Conchas, no norte da Bacia de Campos. A BG, por sua vez, é também candidata ao segundo lugar, à medida que os campos gigantes de águas ultraprofundas no pré-sal da Bacia de Santos, nos quais tem participação, entrarem em operação. Em situação semelhante, embora menos adiantada, está a espanhola Repsol. A OGX, de Eike Batista, entrará nessa lista a partir de 2014/2015.
A Statoil tem condições de dobrar sua produção no Brasil em um prazo relativamente curto, com a chamada fase 2 de Peregrino (ao sul do bloco), com potencial para mais 100 mil baris diários de petróleo. A empresa cogita de construir no país uma nova plataforma de produção e por isso vem se aproximando de potenciais fornecedores, identificados como aptos a fabricar e montar equipamentos dentro das especificações por ela desejadas, que não são necessariamente as mesmas adotadas pela Petrobras, por exemplo. Além de Peregrino, a Statoil participa em dois blocos na Bacia de Campos onde foram feitas descobertas no pré-sal (prospectos Gávea e Pão de Açúcar), todas muito promissoras.
A Noruega tem uma diversificada indústria de equipamentos para exploração e produção de petróleo. A própria Statoil chega a investir capital em indústrias pequenas, vendendo a participação logo que as companhias decolam. No Brasil, a política de estímulo ao desenvolvimento tecnológico na área de petróleo está mais voltada para a criação de centros de pesquisas e laboratórios nas universidades, sem contemplar investimento no capital de indústrias embrionárias.
Dentro de alguns meses a Statoil vai transferir suas instalações, atualmente na orla de Botafogo, para um prédio na Glória, que abrigou a extinta Manchete. Com a reforma já quase finalizada, o prédio receberá também parte da BP, outra companhia peso-pesado.
Os investimentos que a Vale programou para a região de Carajás, no Pará, e no complexo portuário em São Luís, Maranhão, superam US$ 19 bilhões. A ferrovia que liga Carajás ao porto será totalmente duplicada, com as obras começando este ano. E ainda será construído mais um ramal de 150 quilômetros até a chamada Serra Sul, que será a nova frente de exploração de minério de ferro (depois de dez anos, a Vale obteve novas licenças ambientais para extrair minérios nessa área). A duplicação é fundamental porque a China precisa, e muito, do minério de alto teor de ferro extraído na região de Carajás.
Também no Pará, a Vale começará a produzir níquel (projeto Onça Puma) e ampliará a produção de cobre, com o início das atividades na mina de Salobo. Em São Luís, a Vale terá um terminal portuário exclusivo (Mearim) para movimentação de grãos, necessário por conta das safras agrícolas que serão transportadas pela ferrovia Norte-Sul a partir de julho, quando os trens deverão chegar a Anápolis (Goiás). A Norte-Sul se interliga à ferrovia de Carajás na cidade de Açailândia, no Maranhão, e vai até São Luís. Em 2012, a Vale espera se tornar a maior empresa de exploração de níquel no mundo. Hoje já é a primeira no minério de ferro.
Começaram na semana passada as obras de construção da fábrica de automóveis da Nissan, em Resende. Recentemente, no Rio, a empresa reuniu representantes de 400 potenciais fornecedores da nova fábrica. Na mesma região, dentro de poucos dias devem começar também as obras da fábrica de equipamentos pesados da Hyundai. Outra notícia alvissareira para a indústria do Rio é a iniciativa do síndico da massa falida do antigo estaleiro Caneco de promover o leilão das instalações no Caju. O candidato natural à compra é a Rionave, que já ocupa as instalações, arrendadas por 20 anos. A situação falimentar do Caneco não impede que a Rionave produza lá, mas limita os investimentos.
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