quarta-feira, abril 04, 2012
O foco de (e em) Dilma - DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 04/04/12
Quanto mais fraco o Congresso, menos problemas o governo terá ao lidar com ele. Daí o fato de a presidente Dilma não dar muita trela aos parlamentares e centrar fogo na economia
Nesses poucos dias que passa em Brasília entre a chegada da viagem à Ìndia e a visita ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em Washington, a presidente Dilma Rousseff mantém-se concentrada na agenda econômica. O lançamento ontem do programa de apoio à indústria foi sincronizado de forma a tentar tirar o impacto da onda de demissões dos últimos dias.
Quanto às confusões da base parlamentar, ela tem dito que tudo tem seu tempo e, para bons entendedores, o recado é claro: deixa abaixar a poeira para que seja possível identificar a espuma e os erros de fato na condução política do governo — o que, por enquanto, Dilma considera que não existe, e os que haviam, na avaliação dela, foram corrigidos com a troca dos líderes.
Talvez a presidente tenha razão ao considerar que a crise na base não é esse fogaréu todo. Afinal, na Câmara, a Lei Geral da Copa foi aprovada. No Senado, passou o fundo de Previdência do Servidor Público, o Funpresp, que, no futuro, irá aliviar o caixa governamental com a aposentadoria dos servidores. Diga-se de passagem, há mais de 10 anos o país tenta votar essa proposta e foi no governo Dilma que o texto terminou aprovado.
Por falar em aprovação...
Enquanto a presidente estiver com a popularidade alta, seus fiéis escudeiros consideram que ela não tem o que temer. No Congresso, mesmo aqueles arredios ao estilo duro da presidente dizem que ela só precisa segurar a economia e evitar as demissões em massa, como aquelas que ocorreram recentemente na Gol. Não por acaso, ela convidou os pesos pesados da indústria nacional e dos bancos para verem de perto o lançamento das medidas de socorro à indústria, nos salões do Planalto.
Os industriais aplaudiram a desoneração da folha de pagamentos, uma medida que nem Luiz Inácio Lula da Silva tinha conseguido adotar, porque o Ministério da Fazenda não deixava. Medo de perder receita demais. Dilma, entretanto, preferiu correr esse risco e tentar alavancar o Produto Interno Bruto (PIB). Se der certo, pode conseguir um passaporte para a reeleição. Pelo menos, assim raciocinam os petistas.
Por falar em PT...
Ontem, ouvi de muitos correligionários da presidente que eles morrem de saudades dos tempos de Lula. Lembram com nostalgia dos anos em que eram chamados ao Alvorada para conversas políticas, um drink, ou uma boa música na voz do então ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro. José Múcio, aliás, é citado por todos como um craque na construção de pontes entre o presidente da República e o Congresso.
Hoje, isso acabou. Eles têm plena consciência de que Dilma é outro estilo, não é de perder tempo com conversas políticas ou drinks no Alvorada. Mas, embora saudosos, os petistas são pragmáticos. Se Dilma, mesmo durona, continuar lhes oferecendo um governo para chamar de seu, eles vão defender a reeleição dela com unhas e dentes, sem pestanejar ou fraquejar.
Por falar em fraquejar...
Isso não quer dizer que a política não vá deixar de trazer sobressaltos a Dilma. Mas, até o momento, nada foi suficiente para abalar as perspectivas de futuro ou gerar tanta incerteza ao ponto de lhe fazer perder espaço perante a população. No final de 2011, dizia-se que a popularidade dela não se sustentaria no início do segundo ano. Em seguida, ficou para depois do carnaval. Chegamos à Semana Santa e a vida dela segue.
Dentro do Planalto, há quem diga que, enquanto o Congresso estiver cuidando das suas próprias mazelas e das relações de deputados e senadores, a pressão sobre o Planalto diminuirá. A impressão que se tem por ali é a de que quanto mais fraco o Congresso menos problemas o governo terá ao lidar com ele. Daí o fato de a presidente Dilma não dar muita trela aos parlamentares e centrar fogo na economia. Esse é o foco que mantém, não só a sua popularidade como também a sua base.
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