quinta-feira, abril 19, 2012
Dilma na luta, PMDB na lida - DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 19/04/12
Enquanto Dilma, toda prosa, trabalha a população pelo bolso com a queda dos juros bancários, o PMDB, seu maior aliado, tenta se organizar na política para continuar imprescindível a quem estiver no poder
A presidente Dilma Rousseff fechará esta semana com um saldo prá lá de positivo do ponto de visto político. Ela conseguiu dois trunfos em meio a uma saraivada de notícias desgastantes para o governo, tais como a manutenção do crescimento do país abaixo das expectativas, o risco de o Brasil perder o posto de sexta economia do mundo — e, de quebra, uma CPI que promete desaguar numa das empreiteiras que segura o PAC. Ainda assim, ela foi bem naquilo que mais pesa em todas as classes econômicas: o custo dos financiamentos. E, no embalo, ainda recebeu elogios de Hillary Clinton por conta do combate à corrupção.
A notícia de que bancos como o Itaú e o Bradesco vão baixar os juros de quem deseja obter um financiamento cala fundo naquela classe que está com a presidente, mas sem muita convicção. Não por acaso, ministros comentavam que a queda dos juros, no imaginário popular, dá a muitos aquela sensação de que a presidente faz o que outros tentaram e não conseguiram: enquadrar os bancos.
Se essa versão se espalhar e os juros, de fato, caírem sem que os bancos recebam compensações por isso, ela ganhará ainda mais pontos perante o eleitorado. Afinal, é preciso verificar, como bem explicou ontem o blog do editor de economia do Correio, Vicente Nunes, se outras tarifas não sofrerão acréscimos, ou seja, se os bancos de um modo geral vão dar o benefício com uma das mãos e tirar com a outra. Mas, sob o ponto de vista político, governistas e oposicionistas são unânimes em afirmar que os ganhos da presidente virão e, justamente no momento em que os aliados se preparavam para cobrar uma fatura alta.
Por falar em fatura...
Há alguns dias, a base política da presidente Dilma se animou com a nomeação do novo diretor-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), Emerson Fernandes, indicado pelo líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN). A indicação havia sido feita há tempos. A publicação no Diário Oficial da União feita esta semana — justamente, às vésperas da instalação da CPI que investigará as relações do bicheiro Carlos Cachoeira, a empresa Delta, o senador Demóstenes Torres e quem mais chegar — levou muitos a pensarem que estavam reabertas "as portas da esperança" e que todas as nomeações sairiam rapidamente a partir de agora. Mas o Planalto informa que não é bem assim. As nomeações continuarão a conta-gotas, de acordo com a "necessidade", técnica e política.
Afinal, o Planalto avalia que essa CPI não tem como chegar no coração do governo. Na pior das hipóteses, se for para investigar doações de campanha presidencial, seja no primeiro ou no segundo turno, Dilma sempre poderá adotar a mesma postura que Lula teve na crise do mensalão: deixar a conta no colo do PT, mais precisamente, Antonio Palocci, que já está fora.
Por falar em PT...
O partido será convidado para um jantar em 8 de maio com o PMDB. A ideia do encontro surgiu num jantar do PMDB a portas fechadas, há dois dias na casa do deputado Luiz Pitiman (DF). A churrasqueira da mansão foi transformada num miniauditório ao qual só os parlamentares peemedebistas tinham acesso. Ali, numa conversa franca, Henrique Alves tratou de buscar uma certa unidade de trabalho na futura CPI e aproximar o partido de sua candidatura a presidente da Câmara — aliás, o principal objetivo do encontro.
Para amortecer qualquer movimento rumo a Júlio Delgado (PSB-MG), que começa a sentir o terreno para ver se consegue se lançar como alternativa, Henrique Alves mencionou ter o apoio do governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, do PT e de outros partidos. Depois do feriado de 1º de maio, Henrique passará as noites das terças-feiras em jantares destinados à aproximação com os partidos. Haja comida!
Os movimentos hoje são claros: enquanto Dilma trabalha a população pelo bolso, o PMDB, seu maior aliado, tenta organizar a política para continuar imprescindível a quem estiver no poder e permanecer na ribalta. Como bem lembrou o deputado Alceu Moreira (PMDB-RS) durante o encontro, o PMDB precisa ser o partido do equilíbrio. E é para isso que eles vão trabalhar a partir de agora. Afinal, depois de tantas CPIs, ele continua aí, grande e importante. E está ciente de que, nesta CPI, não será diferente.
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