domingo, abril 01, 2012
Como se a história fosse outra - RODRIGO BOTERO MONTOYA
O GLOBO - 01/04/12
Com a chegada da primavera no Hemisfério Norte começam a brotar indícios tênues, mas positivos de uma recuperação da atividade econômica dos EUA. A criação de emprego registra uma tendência favorável. O setor industrial recupera fôlego. O saneamento do setor bancário melhora as perspectivas de crescimento do crédito. Os consumidores despertam de sua letargia e se preparam para comprar automóveis, bens de consumo duráveis e novas moradias.
Note-se que a recuperação ainda é frágil. Poderia ser abortada, com a ocorrência de um colapso financeiro na Europa, ou uma explosão geopolítica no Oriente Médio. Embora os riscos não possam ser excluídos, a probabilidade de isso acontecer diminuiu nos últimos meses. Os mercados financeiros saudaram o recente acordo entre a Grécia e a União Europeia para evitar uma traumática declaração de moratória da dívida externa por parte das autoridades de Atenas.
No setor de energia também se observa uma melhoria, não obstante o aumento do preço da gasolina, que teve origem nas oscilações do mercado global de petróleo. Por um lado, as temperaturas amenas do inverno reduziram a demanda de combustível para calefação. Além disso, os EUA reduziram sua dependência do petróleo importado, devido ao aumento da produção interna e queda no consumo. Em 2011, a produção diária de petróleo foi de cerca de 10,3 milhões de barris, a maior desde os anos 80. Enquanto em 2005 as importações representaram 60% do consumo, em 2011 essa proporção foi de apenas 45%. Os avanços tecnológicos facilitam a extração de "gás de xisto", o que tem ajudado a reduzir o preço desse combustível. As perspectivas para explorar a disponibilidade abundante de gás excedente do Alasca e a instalação de fábricas de compressão de gás permitiriam aos EUA se converter em um exportador de gás liquefeito.
Crescimento do PIB, estimado em 1,7% este ano, está abaixo do crescimento potencial da economia americana. Embora esse ritmo de crescimento seja insuficiente para induzir uma forte redução do desemprego, não pode ser descrito como um comportamento recessivo de demanda agregada.
A reviravolta nos indicadores econômicos e a gradual melhoria que vem ocorrendo na confiança do consumidor afetam o panorama eleitoral. Um ano atrás, as circunstâncias pareciam propícias para que os republicanos pudessem alcançar a meta que se tornou o objetivo central, e quase exclusivo, de sua agenda partidária: inviabilizar a reeleição de Barack Obama. A fadiga com a guerra se agregava ao pessimismo econômico.
Agora, os pré-candidatos republicanos estão se desgastando em eleições primárias conflitivas, fingindo ser os herdeiros de Ronald Reagan, e fazendo de conta que George W. Bush não existiu. As posições extremistas que lhes foram impostas pelo Tea Party vão dificultar que prevaleçam na campanha presidencial.
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