domingo, abril 15, 2012

Bendito entre as mulheres - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP -15/04/12


O ator Du Moscovis vive na ficção e na vida real rodeado por mulheres, mas acha que o papel delas não deve ser superestimado

Eduardo Moscovis, 43, se senta à mesa de uma churrascaria com sistema de rodízio, em Botafogo, no Rio, e é direto. "Quero paleta de cordeiro, picanha nobre e fraldinha", pede ao garçom.

Quem o acompanha no almoço não consegue imaginar que durante 12 anos ele foi vegetariano. Há algum tempo, porém, voltou a comer carne, só por um motivo: "Porque eu gosto [risos]".

É com esta mesma objetividade que ele rejeita o rótulo de "especialista do universo feminino" com sua volta à TV na série "Louco por Elas" (TV Globo). "Isso é uma roubadaça", diz à repórter Lígia Mesquita. "Não tem nada mais pretensioso e burro!"

Ele está cercado por mulheres. Na trama exibida às terças-feiras, escrita e dirigida por João Falcão, vive Léo, um treinador de futebol feminino que mora na mesma casa com a filha, a enteada e a avó e que tem a ex-mulher (Deborah Secco) por perto.

Na vida real, Du, como é chamado, está casado pela segunda vez. Tem três filhas: Gabriela, 13, e Sophia, 11, do relacionamento com Roberta Richards, e Manuela, 4, com a atual mulher, a apresentadora Cynthia Howlett. No último dia 20, nasceu seu primeiro filho homem, Antônio.

Também está no ar uma vez por mês no programa "Saia Justa" (GNT), em que participa de uma roda de mulheres que discutem diversos temas atuais.

"Está sendo maravilhoso fazer a série. Era um projeto antigo meu e do João. Por ser em um horário mais tarde [23h], temos mais liberdade de experimentação. E tem inspiração nas nossas vidas. A gente aborda esse universo feminino no qual fomos colocados. Eu vivi uma história totalmente masculina até ser pai de meninas", diz.

Ele chega ao restaurante em uma moto Vespa cor creme. "Ando de 'scooter' há dez anos." Suas orelhas estão cheias de adesivos com sementes colocados por um acupunturista. "Dei um mau jeito nas costas. Não tomei anti-inflamatório. Recorri às agulhas", conta.

Sua experiência com o universo feminino o ajudou a "entender bastante coisa", mas não explica tudo. "Vocês são mais desenvolvidas que a gente desde sempre. São mais maduras, têm mais sensibilidade. Não sei se isso é bom ou ruim", diz. "E tem um grau de tudo ao mesmo tempo das mulheres. Elas conseguem falar com três pessoas ao mesmo tempo, fazer quatro tarefas. Nós, homens, somos muito mal programados para isso."

Em casa, conta que pede ajuda. "Eu peço: não falem todas ao mesmo tempo que eu não vou conseguir assimilar. Depois, as quatro vão me cobrar e eu não vou lembrar. E não é uma questão de desinteresse, é de incapacidade mesmo."

A atração que estreou há um mês marca o retorno de Moscovis à emissora após sete anos afastado. Em 2005, depois de ter protagonizado duas novelas seguidas, o ator decidiu não renovar o contrato com a Globo.

"Eu comecei no teatro e achava que minha imagem não deveria estar tão atrelada à TV", diz. "Queria ter esse distanciamento, ver como as coisas funcionavam com outras propostas, outras pessoas. E é fato que foi muito bom pra mim." Atualmente está com um contrato por obra com a emissora carioca, que vai até dezembro.

Nesse período, fez a série de TV "Alice" (HBO) e se dedicou ao teatro e ao cinema. Atuou em cinco filmes - o inédito "Corações Sujos", de Vicente Amorim, está previsto para estrear em junho.

No teatro, suas peças mais recentes são o monólogo "O Livro" e o infantil "O Menino Que Vendia Palavras". Esta última ainda pode ser vista no Rio até o dia 30 e passou pelo Festival de Curitiba há uma semana.

A fase de experimentações fora da TV, diz, aumentou seu poder de adaptação. "Você trabalha com e sem dinheiro, numa mega produção, numa produção pobre. Aprende a ver o que você espera das pessoas, o que as pessoas esperam de você."

Afirma que "deve dar para viver" fazendo só teatro. "Tem muito ator que vive assim." Não foi o seu caso. "Eu me programei quando decidi sair da TV. Me organizei para que eu conseguisse manter a galera, mesmo não recebendo aquela quantia mensal."

Seu iPhone toca. "Oi, 'brother'. Tô acabando de almoçar e dando uma entrevista ao mesmo tempo. Em 15 minutos tô aí", avisa à produção de "Louco por Elas".

Produtor associado das últimas peças que montou no teatro, conta que mesmo tendo conseguido autorização para captar recursos via Lei Rouanet, nenhuma empresa quis patrocinar seu monólogo. "A gente fica no lugar de chato, choroso, reclamão, mas é muito difícil levantar um espetáculo."

A dificuldade, entretanto, não o estimula a se engajar em movimentos políticos da classe artística. "Não tenho nenhuma vontade. Nunca fui encantado com a política. E não recebo estímulos para gostar."

O fato de a atual presidente, Dilma Rousseff, ser mulher, "não me diz nada". "Aí acho que existe a inversão do preconceito de superestimar porque é mulher. Ué, mas vocês não são tão capazes quanto [nós]? Ela não fez nada que os outros não tenham feito. E já deixou passar oportunidades muito boas para começar a aparecer de outra forma."

Além da política, outro tema que o incomoda é a pecha de galã. "Isso é muito mais um interesse que vem de fora. É o tipo de conceito feito de uma terceira pessoa em relação a você. Se algum dia alguém achou que era isso, tem que perguntar: 'Acha que ele continua sendo?'. Só continuo fazendo a minha história, trabalhando sem ficar preso a qualquer coisa.". O ator no camarim do teatro Marista, em Curitiba, na semana passada|

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