domingo, março 25, 2012

Tsunami de custos - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 25/03/12


Reunião de empresários com a presidente Dilma Rousseff serviu para acertar ponteiros quanto aos problemas que afligem a indústria nacional
Se algo de bom saiu da reunião da presidente Dilma Rousseff com 28 dos principais empresários do país, foi a maior clareza no diagnóstico sobre a real razão da falta de competitividade brasileira: os custos internos que advêm da carga tributária alta, da energia cara e da infraestrutura pobre.

O câmbio valorizado sem dúvida é importante e prossegue em destaque na lista de reclamações, mas a elite empresarial parece, afinal, reconhecer que o problema é mais profundo e estrutural que o mero valor do real perante o dólar.

Prova de que cresce a atenção para deficiências internas é que o governo também conteve a retórica contra o "tsunami monetário", expressão usada pela presidente para designar a onda de entrada de dinheiro no Brasil, como resultado da emissão de moeda pelos países centrais.

A crítica da presidente se referia especificamente à Europa, que despejou mais de ? 500 bilhões em empréstimos, no mês passado, para socorrer bancos e conter uma crise de crédito. Ao contrário do que se temia, no entanto, não houve desvalorização do euro.

O que há e continuará havendo é um interesse cada vez maior do investidor estrangeiro em ativos reais (terras, fábricas, minas etc.) de economias com maior crescimento. A política de juros zero nos países centrais incentiva, mas não é a principal razão para essa busca.

Constata-se uma discrepância nas carteiras dos maiores detentores de dinheiro no mundo rico: uma pequena fração, menos de 10%, está investida nos países emergentes, que, no entanto, já representam mais de 50% do PIB global. O Brasil continuará a conviver com maciças entradas de recursos, que devem manter o real ainda valorizado.

O governo precisa favorecer investimentos diretos e conter fluxos mais especulativos. A queda na taxa básica de juros ajuda. É tolerável desestimular a entrada de capital aventureiro, mas cumpre evitar exageros que afugentem o dinheiro bom, para investimento.

Já cortar os custos não depende de fatores externos. Alguns empresários tocaram no ponto central: para que o país volte a almejar uma posição de destaque na indústria global, precisa de um programa amplo e continuado de desoneração de impostos para todos, e não apenas para alguns setores.

A meta deve ser acabar com impostos sobre faturamento das empresas e sobre insumos de produção. Não faz sentido, por exemplo, a energia custar três vezes mais que a média global. O momento é propício para uma revisão tarifária.

Não se espera um salto de competência do governo nessa matéria, mas ao menos o primeiro passo foi dado na reunião: identificar corretamente o problema.

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