terça-feira, março 20, 2012
Transparência no BC - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 20/03/12
A partir da política de metas de inflação adotada em 1999, por uma década o Banco Central (BC) apegou-se a uma forma cifrada de se comunicar com a sociedade -ou, mais precisamente, com as instituições financeiras. Desde fins de 2010, contudo, sua comunicação vem de tornando mais direta.
Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC, na prática, adiantou seus próximos passos na gestão da taxa de juros básica. Ao divulgar a ata do encontro em que foi determinado corte da taxa Selic de 10,5% para 9,75% ao ano, a autoridade monetária explicitou a intenção de levar a taxa de referência para nível "ligeiramente acima dos mínimos históricos" e de estabilizá-la nesse patamar.
O mais baixo registro da Selic foi de 8,75% ao ano, válido de julho de 2009 a abril de 2010, período dos efeitos recessivos mais fortes da crise financeira global. Como nos últimos anos o BC nunca determinou mudança na taxa básica inferior a 0,25 ponto percentual, entendeu-se que a Selic deverá logo recuar até 9% ao ano e ficar aí por ao menos alguns meses.
Grande parte do mercado financeiro se surpreendeu. Por avaliar que o BC vem se tornando menos comprometido com a meta de inflação, muitas instituições financeiras anteviam uma trajetória mais rápida e ousada de corte de juros.
Negócios no mercado de juros vinham sendo feitos na suposição de que a taxa chegaria a 8,5% ao ano, ou menos. A mensagem explícita do BC fez os juros praticados no mercado darem um salto -efeito tido como esperado pelo BC.
A sinalização mais clara dos próximos passos do banco parece ter, num primeiro momento, diluído desconfianças quanto ao rigor anti-inflacionário. No entanto, esse ganho de credibilidade poderá não se consolidar com o tempo, a depender de outras atitudes do BC.
O "piso" recém-anunciado para os juros básicos está, por fim, mais alto do que os 8,5% ao ano que, segundo cálculos do mercado, demandariam alterar a regra de remuneração da caderneta de poupança. O governo prefere adiar essa discussão eleitoralmente sensível.
A ata protelou esse debate por prazo indefinido. Seria desastroso para a credibilidade do BC qualquer indício de que houve aí mais que uma coincidência.
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