sexta-feira, março 16, 2012

Parada técnica - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 16/03/12


O recado mais importante da Ata do Copom, divulgada ontem, é que os juros básicos (Selic), hoje nos 9,75% ao ano, cairão para 9,00% ao ano e devem permanecer nesse patamar por algum tempo. Indicação tão precisa é inédita na história do Copom.

Faltou dizer em quanto tempo se consuma o processo. Como o Banco Central mostra pressa, aparentemente para garantir avanço do PIB em 2012, esses 9,00% podem vir em abril.

As principais justificativas para a maior derrubada dos juros em março foram: melhora da situação da economia brasileira; consumo crescendo moderadamente; aumento da confiança; e crise externa relativamente controlada. Isso posto, pergunta crucial busca saber por que o Banco Central vai parar de baixar os juros quando estiverem nos 9,00% ao ano. Se tudo vai bem, não seria recomendável aproveitar a boa situação para derrubá-los mais? Terça-feira, perante a Comissão de Economia e Finanças do Senado, o ministro Mantega avisou que a Selic convergiria para o nível da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), cobrada pelo BNDES, hoje, em 6,0% ao ano. Teria o ministro se metido no que não é de sua conta?

Uma das hipóteses para explicar a parada nos 9,00% é política. Abaixo desse nível, será preciso diminuir o rendimento tabelado da caderneta de poupança, que passaria a remunerar mais do que os fundos de renda fixa e os títulos do Tesouro. E o governo não quer ser acusado de "confisco" na poupança popular às vésperas das eleições municipais deste ano.

Outra possibilidade é que, antes de cortar ainda mais a Selic, é necessária parada técnica para avaliar os efeitos dos cortes acumulados dos juros básicos desde agosto, quando estavam em 12,50% ao ano.

Prevalece a impressão já apontada por esta Coluna em outra oportunidade: há descasamento entre as justificativas para o corte dos juros tais como expostas pelo Banco Central e a execução da política monetária. Variam de reunião para reunião do Copom.

Mais três observações: primeira, o Banco Central enalteceu na Ata os efeitos benéficos do aumento da apropriação de poupança externa. Ou seja, a forte entrada de capitais parece desejável, ao contrário do sugerido pela retórica do "tsunami financeiro" da presidente Dilma e ao pretendido pelas restrições do Ministério da Fazenda ao afluxo de recursos externos.

Segunda, como na ata anterior, o Banco Central advertiu quanto ao risco para a inflação provocada pela "concessão de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade". Mas, em termos práticos, o que poderia fazer para evitar o problema a não ser desacelerar a atividade econômica seja pelos juros mais altos, seja pelas tais medidas prudenciais?

Terceiro ponto, se o nível da Selic vai pousar na casa dos 9,00% ao ano e, como se pode deduzir das apostas do Banco Central, se a inflação ficar nos 5,0% ao ano, o juro real cairá para a altura dos 4,00% ao ano. Será suficiente para entregar a inflação na meta ou o sistema de metas de inflação ficou mais flexível?

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