quinta-feira, março 15, 2012
Onde 2013 vem antes de 2012 - DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 15/03/12
Há tempos não se vê tanta confusão e focos de incêndio numa base governista simultaneamente na Câmara e no Senado. O PR no Senado vira oposição, parte do PMDB cruza os braços. Ninguém confia em ninguém
A confusão na seara política está tão grande que o ano de 2013 já chegou atropelando a sucessão municipal. No Congresso, em todos os partidos, não se fala em outra coisa que não seja a eleição dos presidentes das duas Casas — Câmara e Senado. Essa conversa já começou a contaminar as votações e, por mais que os líderes petistas digam dia e noite que não vão quebrar o compromisso com o PMDB, ninguém confia em ninguém.
Ontem, por exemplo, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), o número um do partido para presidente da Casa no ano que vem, almoçou com os ruralistas e propôs retomar o texto dos deputados para o Código Florestal. O governo não quer a proposta antiga, muito criticada pelos ambientalistas.
Mas entre a emenda que Alves defendeu de viva-voz na Câmara, na votação do ano passado, e o governo, o líder do PMDB vai ficar com o discurso e os votos da bancada ruralista para presidir a Câmara. Não por acaso, com medo de perder como ocorreu da outra vez na Câmara, o Poder Executivo conversa com o PT para trabalhar no sentido de deixar o tema para depois da Rio+20 — uma jogada de risco que pode complicar a vida de Dilma na conferência.
Por falar em PT...
Alves começa com esse gesto, de forma muito sutil, a trabalhar a sua campanha no lusco-fusco entre governo e oposição, uma vez que a grande bancada ruralista se espraia nos dois campos. Deste ponto, fica mais fácil, se necessário, pular o córrego governista e ficar na margem oposicionista — desculpem-me os puristas, mas na política não existe mais esquerda ou direita.
Os petistas assistem a todos esses movimentos com um olho no gato, outro no peixe. Tudo o que eles queriam com a nomeação de Arlindo Chinaglia para líder do governo era dar um recado subliminar ao PMDB. Algo do tipo "respeitem o PT e deixem de manifestos ou coisa que o valha, porque vamos cumprir o nosso acordo com vocês (votar no candidato do PMDB a presidente da Câmara)". Ocorre que a dose foi grande e agora a desconfiança está lançada tanto na Câmara quanto no Senado.
Por falar em Senado...
A Casa pega fogo. Renan Calheiros vê escorrer via governo suas chances de presidir o Senado. Não por acaso, declara dia e noite que não é candidato à sucessão de José Sarney. A ideia de Renan é administrar o tempo. Hoje, ele tem dez votos dentro do PMDB, os do PTB capitaneados por Gim Argello (DF), e ainda dois do PSD de Gilberto Kassab. Afinal, Renan e Sarney foram cruciais na hora de o PSD conseguir espaço nas comissões da Casa.
Enquanto isso, Dilma discute a possibilidade de deslocar Edison Lobão de Minas e Energia para a Presidência da Casa. Ele é hoje o único nome em quem Dilma confia plenamente para o cargo. Afinal, o ministro da Previdência, Garibaldi Alves, foi rebelde demais quando presidiu a Casa no governo Lula.
Por falar em rebeldia...
Dentro do PMDB, a rebeldia está muito sutil, mas virá. Tudo, a partir de agora, depende do líder Eduardo Braga. Ele que se vire para cuidar dos votos e dos projetos. E já chega ao cargo com uma banda da base rumo à oposição. Outro dia, tratamos aqui da pescaria de Aécio Neves na base governista. Que ele, antes de viajar para Washington, já havia preparado o terreno. Ontem, ele pescou o senador Blairo Maggi (PR-MT), que está oficialmente no bloco oposicionista. Se continuar nesse ritmo de confusão na base, Aécio nem precisará de muito esforço para pescar os políticos. Só não pode esquecer que, para virar presidente, é preciso conquistar o povo.
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