Como recordar é viver, falou-se de personagens importantes na disputa eleitoral — caso do senador Eduardo Braga (PMDB-AM), que hoje não consegue ser tratado como “o cara” de Dima no seu estado. Braga foi citado como exemplo na reunião porque elegeu o sucessor no governo do Amazonas, ajudou Dilma a obter 82% dos votos, e carregou para o Senado Vanessa Graziottin, tirando Arthur Virgílio (PSDB) do calcanhar governista.
No Ceará, não foi diferente. Eunício viu o “Pimentasso” querer fritá-lo na campanha, porque todos julgavam Tasso Jereissati, do PSDB, reeleito ao Senado. Pela lógica, Eunício e José Pimentel, do PT, disputariam a segunda vaga. Urnas apuradas, Tasso estava derrotado e os dois aliados de Dilma vitoriosos, graças ao trabalho do próprio Lula que interveio para acabar com as alianças heterodoxas.
Enquanto isso, em São Paulo, o PT não fez verão. Abertas as urnas, Geraldo Alckmin venceu Aloizio Mercadante, do PT, no primeiro turno. Salvou-se apenas Marta Suplicy, eleita senadora — que agora foi retirada da disputa pela prefeitura da capital.
Por falar em São Paulo…
Passadas as recordações eleitorais, os presentes à reunião falaram do maior deslize de Dilma na seara política: desprezá-los na hora de compor o governo. “Fomos assaltados depois da eleição”, comentou um deles. Usaram essa expressão ao mencionar que os paulistas do PT, em sua maioria derrotados eleitoralmente, tomaram conta do Poder Executivo. Ocuparam sete pastas, além da Secretaria-Geral da Presidência da República. De Dilma, mesmo, sobraram apenas Giles Carriconde e as ministras palacianas. E de lá para cá, esse poder do PT de São Paulo só aumenta no governo, incluída aí a atuação do PT de São Paulo nos fundos de pensão.
Lembraram ainda que, por um ano, aliados de Dilma engoliram meio que calados essa composição benéfica ao PT paulista. A gota d’água, entretanto, foi a forma como o governo tentou remover o chumbo do pé de Fernando Haddad na campanha paulistana, com a entrega de um ministério periférico ao PRB. E o fato de vir à tona o projeto petista de conquistar mil prefeituras e mil vice-prefeituras.
A Pesca, com todo respeito, nunca foi vista como uma tecnologia de ponta pelos partidos. Além disso, seu titular, embora do PT, não era de São Paulo. Diante da constatação de que todos os cargos importantes estão nas mãos do PT paulista — e as mudanças no ministério visam justamente ajudar o PT de São Paulo e em São Paulo — os aliados concluíram que é hora de emparedar Dilma: se ela quiser resolver um problema do PT de São Paulo, ou mesmo conquistar aliados para Haddad usando o governo, terá que mexer nos ministérios a cargo dos petistas paulistas e propor uma coalizão de verdade. Ou ficará apenas com o PT.
Por falar em coalizão…
Os aliados não querem nem de longe ver repetida a cena em que José Sarney, na sala com Dilma e Gleisi Hoffmann, viu entrar Ideli Salvatti. A ministra de Relações Institucionais, sem perceber a presença dele, chegou dizendo que Sarney queria confusão indicando um sujeito para a Valec. Sarney escutou. Foi um mal estar geral que está há 60 dias no ar, conforme relatado na reunião da semana passada entre os aliados.
Na conversa, falou-se ainda do incômodo dos partidos da pseudo coalizão com a maneira de Dilma tomar decisões e tocar projetos. Sem dividir louros, cargos importantes ou propostas. O cadastro do Bolsa Família é guardado a sete chaves pelos petistas. Desconfiam os aliados para uso eleitoral. Na troca de comando da Petrobras, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, soube pela internet. O mesmo ocorreu na Agência Nacional do Petróleo, onde a escolha de Magda Chambriard, para direção-geral se deu rapidamente, de forma a evitar que, diante da crise nos partidos, Lobão pudesse fazer o sucessor de Haroldo Lima, do PCdoB, que, aliás, também vem perdendo terreno.
Como num casamento que vai mal, os partidos são sempre os últimos a saber das decisões de governo e, quando são chamados, é apenas para resolver um problema do PT ou conhecer o projeto como pacote fechado. Por isso, a ordem agora é forçar a porta. Sob pena de o PT ficar sozinho. Resta saber se terão bala na agulha para levar esse xeque mate ao pé da letra. Eles apostam que, com o PIB de 2,7%, Dilma abre a guarda. Afinal, eles foram fiéis na eleição. Agora, querem usufruir do regime de comunhão de bens. Se não for assim, novas traições virão.
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