quinta-feira, março 22, 2012
O concreto de Haddad - DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 22/03/12
Alguns petistas e peemedebistas trabalham uma proposta pra lá de ousada para cumprir o objetivo máximo de derrotar o PSDB em São Paulo: fazer de Fernando Haddad vice de Gabriel Chalita. O difícil é essa ideia de cúpulas passar numa convenção do PT em São Paulo
Paralelamente à série de Comissões Parlamentares de Inquérito em fase de gestação no Congresso, que tentam abalrroar seu governo em pontos sensíveis, a presidente Dilma Rousseff tem sido chamada a mudar o governo por um outro motivo: a eleição paulistana. Em seus encontros mais reservados, o PT convive com uma dura realidade. Nenhum partido da base se mostra animado em seguir ao lado do pré-candidato petista, citado nos bastidores como o "concretado" nos 3% das intenções de voto.
Haddad saiu do ministério em janeiro como a grande esperança de dar ao PT uma roupagem menos sindicalista, caso de alguns ilustres concorrentes das prévias enterradas por Lula, e menos impetuosa, como a estrela Marta Suplicy. Há quem diga, dentro do PT, que, desde então, o ex-ministro andou muito, mas não saiu do lugar, embora esteja todos os dias na mídia.
Tem certa razão a parte do PT que se refere sempre aos índices de Haddad com aquele "Calma, a campanha ainda não começou, o cidadão comum não está interessado em discutir candidato agora". O fator Lula ainda não se fez sentir, uma vez que o ex-presidente ainda não foi totalmente liberado para eventos públicos e ainda ficará pelo menos 60 dias fora dos palanques. Mas não dá para esquecer que os políticos são os primeiros a perceber quando algo vai mal. Aqueles acostumados ao poder, então, nem se fala. Sentem de longe o cheiro de queimado e logo abandonam o barco. Ou, se estão fora, não se esforçam de verdade para ingressar nele, a não ser que levem algo em troca.
Por falar em esforço...
É exatamente nesse ponto que se encontra a pré-candidatura de Haddad. No mercado da política, apoiá-lo hoje custa mais caro do que comprar um apartamento de luxo em Brasília ou no Rio de Janeiro, onde os preços estão astronômicos. Afinal, a turma ainda não sente firmeza na construção. De concreto, ele tem 3% nas pesquisas em geral e precisa desesperadamente de um generoso tempo de tevê para chamar de seu. Coincidência ou não, o governo reabre as portas da esperança para reacolher o Partido da República no primeiro time de Dilma nesse quadro.
Enquanto isso, o PSB faz seu jogo dúbio, ora ouve-se no partido que Eduardo Campos não faltará a Lula, ora os socialistas deixam escapar que a prioridade em São Paulo é a relação com Gilberto Kassab. E assim, o tempo vai passando com os concretos 3% e o PSDB dominando o noticiário e a cena política.
Por falar em domínios...
O sentimento que moveu Lula a escolher Haddad candidato foi o de ampliar o eleitorado do PT e, assim, conquistar o espaço para derrotar o PSDB no maior colégio eleitoral do país. A vontade dos petistas de derrotar o PSDB não reduziu um só milímetro desde então. E, como a pré-campanha ainda não saiu do chão, tem gente pensando numa jogada ainda mais ousada para o PT paulistano: levar Haddad para a vice de Gabriel Chalita, do PMDB.
Assim, alguns petistas e peemedebistas trabalham a vingança perfeita: se unir ao antigo aliado de Serra e, assim, derrotá-lo. Pode ser sonho de uma noite de outono em que faltam pontos na pesquisa, mas já tem gente pensando nisso.
O difícil é convencer o PT paulistano, tão repleto de estrelas, a aceitar essa composição impensável para muitos e rechaçada por grande parte do diretório local. Afinal, em política, tudo o que não é natural termina por dar errado. Vide as alianças artificiais construídas no governo Dilma. A cada dia trazem mais problemas e menos soluções.
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