Ganhos sociais - GEORGE VIDOR

O GLOBO - 26/03/12
O Brasil não teve um crescimento chinês, mas em termos sociais os avanços dos últimos vinte anos foram mais do que proporcionais à medida de expansão do Produto Interno Bruto. As análises do economista Marcelo Néri, da Fundação Getulio Vargas, chamam a atenção para essa questão curiosa, que ainda não despertou o mesmo interesse entre demais colegas de profissão.

Assim como o crescimento econômico chinês desafia os modelos teóricos, por sua longa duração, também o que tem acontecido no Brasil extrapola o que os indicadores convencionais costumam traduzir. A expansão moderada do PIB, por exemplo, não tem impedido que o emprego formal evolua a um ritmo de mais de 5% ao ano, quase duas vezes e meia o crescimento da população economicamente ativa (em idade de trabalhar). No conjunto (formal, informal, por conta própria, servidores civis e militares), o emprego ainda se expande tanto ou mais que o número dos que chegam ao mercado de trabalho.

Os programas sociais e o processo de formalização da economia (que deu respaldo à política de valorização do salário mínimo) certamente ajudaram nesses avanços, mas talvez o fator determinante seja a educação, por mais esdrúxulo que isso possa parecer, diante da qualidade do aprendizado no Brasil. A universalização do ensino fundamental e o tempo de escolaridade, com todos os poréns, multiplicaram o número de pessoas aptas a trabalhar nos segmentos de serviços, o que fez a diferença. Relativamente, os avanços sociais no Brasil foram maiores que os das economias emergentes asiáticas, nas quais se observa uma tendência à concentração de renda.

A dúvida é se esse fenômeno se manterá, ou se daqui para a frente, para que os avanços sociais continuem, o Brasil dependerá de um crescimento econômico mais vigoroso. É provável que sim.

Aos poucos vamos nos acostumando com novos atores nacionais na área de exploração e produção de petróleo. Antes só ouvíamos falar de Petrobras ou de companhias internacionais, mas agora já estão mais frequentes no noticiário nomes como OGX, HRT, Queiroz Galvão, Barra Energia, Petra, Sinergy, PetroRecôncavo e outras, como a Cowan, antes mais conhecida no setor pela prestação de serviços. O grupo tem sede em Belo Horizonte, mas a área de petróleo opera no Rio. A discreta Cowan já descobriu petróleo em terra, com três poços perfurados no bloco ES-T-400, no Espírito Santo. Ainda pretende perfurar lá vários poços antes de começar a produção dos reservatórios, estimados em 20 milhões de barris recuperáveis.

Ainda também por explorar, a Cowan é operadora de mais duas concessões em terra, uma na Paraíba, próxima ao chamado parque dos dinossauros, e a segunda no Recôncavo Baiano, na altura de Sauípe. No entanto, o maior desafio da debutante companhia está na costa da Namíbia, em águas profundas, onde é possível que haja petróleo, tal como aqui, na camada do pré-sal. Lá, a Cowan, com 85%, é sócia da empresa estatal Namcor. Levantamentos sísmicos, em duas e três dimensões, já estão sendo feitos nesses blocos para que no ano que vem a empresa comece a perfurar o seu primeiro poço em águas profundas na costa africana, usando como base a cidade de Lüderitz (de onde Amir Klink partiu, remando, para sua famosa e bem-sucedida travessia solitária do Atlântico).

A Cowan é dona de duas sondas de perfuração de poços terrestres, que estão arrendadas a terceiros. Uma delas perfura poços em Minas Gerais, para a Petra, em busca de reservatórios de gás natural. O principal executivo da Cowan é um violoncelista que desistira da vida musical por não se considerar suficientemente talentoso (músicos clássicos são muito exigentes consigo mesmos). Guilherme Santana migrou para o mundo dos executivos, especializando-se em gerenciamento de riscos. Trabalhou em Portugal para a Comunidade Europeia e ao retornar ao Brasil foi contratado pela Agência Nacional do Petróleo. Como o petróleo é um setor apaixonante, não saiu mais dele, trocando só o setor público pela iniciativa privada.

Ainda a propósito de nota publicada aqui, sobre a casa de verão de Alexandre Mackenzie, lendário presidente da Light: o imóvel foi construído em 1913 com uma estrutura de aço importada da Inglaterra, e contava com equipamentos sofisticadíssimos para a época (aquecimento e um aspirador de pó também central), além de maçanetas de cristal, lambris feitos de madeira de lei, banheiros com ferragens extraordinárias etc. O Rio era naquela época uma cidade ameaçada pela febre amarela e acreditava-se que os mosquitos transmissores da doença eram raros acima de uma determinada altitude . Para fugir deles, e do calor, quem podia ($$$) se refugiava no Alto da Boa Vista ou nos demais acessos à Floresta da Tijuca, a exemplo do caso da casa de verão de diretores da Light, vizinha ao Hotel das Paineiras.

Depois de Mackenzie, sucessivos diretores canadenses da Light a ocuparam, até 1959. Em 1960, foi alugada para Roberto Paulo Cezar de Andrade, chefe de gabinete do então presidente da Light, Antonio Gallotti. Andrade, a mulher Magaly e os cinco filhos ali moraram por dez anos. Mais tarde ele próprio viria a ser presidente do grupo Brascan e a casa passaria ao patrimônio da União na negociação que envolveu a própria Light.

A sede da administração do Parque Nacional da Tijuca deve ser transferida para essa casa, do mesmo modo que o Hotel das Paineiras será reaproveitado como centro de convenções.

Uma outra curiosidade é que Mackenzie tem sobrinhos-netos morando no Rio.