quinta-feira, março 01, 2012

Europa e austeridade - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 01/03/12


Como se a Europa já não tivesse problemas suficientes, com o naufrágio da Grécia, a recessão e o endividamento, eis que surge um novo problema. A França, que com a Alemanha, são os países mais poderosos da UE, entra em campanha eleitoral. E os seus vizinhos estão diante de um dilema dramático: devem escolher Nicolas Sarkozy, que talvez seja reeleito em maio, ou apoiar seu rival, o socialista François Hollande? No conjunto, eles estão hesitantes.

Dois países apenas fizeram uma escolha clara: a Bélgica, cujo primeiro-ministro, o socialista Elio Di Rupo, expressou seu apoio a Hollande. E a Alemanha, já que a chanceler Angela Merkel deu seu voto para o amigo/inimigo Sarkozy, com quem ela comanda há dois anos toda a economia do continente, particularmente a questão da Grécia.

Os outros países ainda se interrogam. O primeiro critério na escolha é a preferência afetiva. Eles conhecem bem Sarkozy e não o apreciam.

Acham que é um "parlapatão". Quando dois dirigentes europeus se encontram, sobre o que conversam? Segundo um deles, "comentamos as maledicências que Sarkozy falou sobre nós". O duo Merkel-Sarkozy, que se proclamou salvador da Europa, exaspera. Ao mesmo tempo, as pessoas reconhecem que o presidente francês, apesar de suas maneiras vulgares, é enérgico, perseverante e corajoso.

Ideias pueris. E François Hollande, o socialista que pode chegar à presidência dentro de três meses? Ele é pouco conhecido. Não tem a dimensão de Sarkozy. É simpático, mas não se sabe ao certo o que pretende. Suas ideias parecem confusas, desconectadas e apresentadas sem muito convencimento. Seus ataques virulentos e vagos contra o dinheiro e os ricos desagradam. São considerados demagógicos, ou pior, pueris.

Se deixarmos de lado o aspecto do "afeto", que programa os europeus preferem? O de Sarkozy ou o de Hollande? À primeira vista, uma grande maioria de dirigentes europeus está "farta, realmente farta" da política de austeridade imposta pela dupla Merkel/Sarkozy. Estamos assistindo à uma revolta contra a austeridade.

Doze países estão exigindo uma reformulação do sistema imposto pela dupla, em favor do crescimento.

Esses 12 países, às vésperas da reunião, sexta-feira, quando será assinado em Bruxelas um novo tratado de disciplina orçamentária, julgam que a austeridade assustadora infligida à Europa (Grécia, Espanha...) levarão o continente a uma recessão duradoura. E esses países em cólera são liderados pelo italiano Mario Monti. Mas Monti não é considerado um demagogo. É um técnico, não um "político". Ele sucedeu o lunático Berlusconi precisamente para colocar em ordem as contas da Itália. Pois bem, este homem "austero" hoje se declara contra a austeridade do plano Sarkozy/Merkel.

E, aparentemente, ele se coloca ao lado do socialista François Hollande que também exige que aquele plano seja complementado por medidas de crescimento.

Mas, na realidade, essas convergências entre Hollande e os 12 países contrários ao plano de austeridade são ilusórias, imaginárias.

Como Mario Monti e seus aliados pretendem "relançar o crescimento?" Por meio da liberalização, da flexibilidade do trabalho, uma maior abertura comercial do continente, em outros termos, por uma dose de liberalismo econômico mais generosa do que hoje.

E isto é, bem entendido, exatamente o contrário do conceito mais "estatal", bem menos liberal, dos socialistas franceses, e portanto de François Hollande. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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